
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
O troglossexual e o sacrossanto direito ao silêncio

Para quem não conhece o termo troglossexual, explico: cunhado pelo meu amigo Valcir, ele representa o nosso protesto ao que muitos tem tentado fazer ao homem, principalmente representa a nossa negação ao estilo de vida dos metrossexuais, überssexuais e outros sexuais que não sejam masculino-sexuais. O troglossexual é o homem que é homem, ou seja, tem pêlos, cospe no chão, coça o saco, fala palavrão, solta peido, bebe cerveja – ou outra bebida para macho – não usa creme anti-rugas, não faz limpeza de pele, não ajeita a sobrancelha e quando vai para a academia malha o bíceps e não os glúteos. Enfim, tendo explicado, retornemos ao ponto central deste manifesto (outra característica do verdadeiro homem, a objetividade), que é o sacrossanto direito ao silêncio, ou, em outras palavras, o direito de falar pouco.
Muitas mulheres reclamam repetidamente que seus machos não sabem conversar, praticamente deixando-as falando sozinhas. É verdade, não posso argumentar contra este fato, mas permitam-me dizer que esse é um indício – cara fêmea que me lê – de que você está acompanhada de um verdadeiro homem. O que vocês não entendem é que nós não possuímos a necessidade de expressarmos em palavras tudo o que se passa em nossas mentes, ou a incrível capacidade de transformar um relato que possa ser feito em cinco palavras em um discurso de infinitas laudas. E é interessante notar que muitas de vocês, quando fazem a lista das características ideais para o príncipe encantado, apontam a capacidade de ouvir como uma das principais. Ou seja, como vocês esperam que nós possamos ser bons ouvintes e ao mesmo tempo estejamos despejando nossas próprias opiniões, interrompendo seus intermináveis relatos de como foi o seu dia? E, apesar de poucos afeitos a longas conversas, nós, em respeito às suas características femininas, nos dispomos a ouvir tudo o que vocês acham importante nos contar, o que normalmente significa saber tudo o que aconteceu a partir do momento em que vocês acordaram até o momento em que está ocorrendo a conversa. Mas, mesmo estando dispostos a esse sacrifício, somos sempre repreendidos por conta do nosso silêncio.
Entendam, se vocês possuem o direito de falar tudo, nós temos o direito de nos manter calados, ou falarmos apenas o necessário. Minha sugestão é que vocês aproveitem aquele dia anormal em que seu troglodita preferido está emitindo mais do que alguns grunhidos. Talvez o time dele tenha vencido, talvez ele tenha sido promovido, talvez ele tenha bebido demais ou usado substâncias ilegais, talvez ele até tenha se encontrado com uma ex-namorada que lhe tenha chutado a bunda e descoberto que ela se casou, está gorda, flácida e tem mais varizes na perna do que o Brasil tem de estradas. Não importa o motivo, se ele está querendo conversar, então aproveite, se não for o caso, respeite o seu direito de manter a boca fechada. Caso você realmente precise falar, fale, nós escutaremos. Caso você precise ouvir opiniões mais longas do que uma sentença de três palavras, procure sua melhor amiga, e caso você ache que exista um homem que seja capaz de longas conversas, eu preciso adverti-la de que esse cara aí gosta da mesma fruta que você.
A propósito, não esperem pelo príncipe encantado, ele não existe, e se existir é metrossexual, ou seja, não é homem. Esperem pelo bárbaro, pois este é que será o homem capaz de matar qualquer dragão para lhe manter ao lado, e jamais disputará com você para saber quem tem o cabelo mais fashion...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Revisitando o Abismo
para não tornar-se também um monstro.
Quando se olha muito tempo para um abismo,
o abismo olha para você.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Vigília
Tento dormir e descubro
O que fazes velando o meu sono?
O que queres mirando meu rosto assim?
Belo eu sei que ele não é
Então, quantas noites mais terei o prazer desta vigília?
Mas, é hora
A noite se vai, o tempo que corre acelerado
Sempre acelerado quando estamos, nós dois, como se fôssemos um
Sol nascendo para o sono que não pude ter à noite
Não há arrependimentos
Toda saudade é expressão da despedida
Todo reencontro demora mais do que seria justo esperar
Mas nestas horas assemelhadas a dias
Resta a certeza de novamente trocar o sono pela vigília
Benditos momentos em que não há nada melhor para fazer
Leva
Através do certo
Por entre os mistérios
Entre teus lábios
Sob tua pele
Em teu respirar
Naquele teu olhar
Dentro de si
Leva
Esta certeza
Estas linhas
Esta fábula
Esta maneira
De falar do amor
Que dedico a ti
Ps.: Esta é oferecida a você, Ana Fernandes. Precisava dizer? Claro que não, pois já sabes tudo isso...
domingo, 9 de agosto de 2009
Crise de Idade Inteira

Não temo o raio da silibrina
Não desejo a mulher que nunca dorme só
Não sinto falta da dúvida e há muito não sei o que é perguntar
Não vejo luz no túnel, nem mesmo sei onde fica sua entrada
Não transcrevo conversa fiada
Não tomo partido, não tomo inteiro
Não tenho jeito para galã
Não sei o que é febre terçã
Não seguro a onda, não seguro o vento
Não conheço os pontos cardeais
Não abrigo a maldade, não obrigo ninguém
Não entendo você, nem mesmo eu também
Não torço pelo vencedor
Não me deixo enganar, não sou perdedor
Não perco tempo com mesquinharias
Não tenho um vintém
Não acho estranho o diferente, não faço desdém
Não sei o que quero, não sei onde vou, não olho o trem
Outrora julgava-me capaz de dominar o mundo. E esta é das poucas frustrações que roubam-me o sono. A certeza que tenho é que não consegui meu intento. Hoje sei que foi ele quem me dominou. Não é crise de meia-idade, é crise de idade inteira. Lembro-me do Zeca e seu copo de cerveja que nunca seca. Lembro que é a vida que leva eu. E converso com meus botões fartos de ouvir minhas conjecturas. Abro a lata, vamos bater lata, vamos fazer retirada estratégica, voltemos à prancheta, let’s buy a ticket to ride, e continuemos a seguir
domingo, 2 de agosto de 2009
Um mundo meio que assim...

terça-feira, 28 de julho de 2009
Pobres Formigas
Somos como formigas. Caminhamos sob os pés de gigantes. Somos o tempo perdido em dias que não possuem fim. Surpreendemos. Suportamos pesos desproporcionais à leveza que sugerimos. Somos formigas operárias. Trabalhamos para dar conforto ao esperto gafanhoto que nunca passa frio. Nosso comportamento randômico aparentemente determina a ordem do caos que criamos. Somos como o espelho quebrado. Insatisfação eterna com o que vemos, ouvimos e pedimos. Nunca temos o suficiente e tememos nunca ter. Somos a insuportável certeza de não ser, a incerta proeza de vencer, a insuspeitável agonia de não saber. Somos como formigas. Cavamos nossos túneis e neles vivemos às escuras. Somos o oposto do oposto do que é certo e não temos consciência. Somos o fardo pesado que retarda o gozo de uma plenitude que não logramos atingir. Percorremos o labirinto de nossas angústias, catalogamos nossos defeitos, repreendemos nossos sonhos, desacreditamos nossa fé, não deixamos tijolo sobre tijolo, não fazemos acordos, sabotamos nossa improvável felicidade, soltamos impropérios quando deveríamos orar. Somos como as formigas. Incapazes de refletir, não ousamos ter a noção de que ser é parte de uma insustentável e harmoniosa leveza no viver.
terça-feira, 21 de julho de 2009
O que tenho nas mãos?
Fonte: www.deviantart.com
Grãos de areia que se vão
Gotas de vida que não são
Rito de fim sem razão
Saldo de sonhos em vão
O vir-a-ser nas mãos!
Sinal de gritos e dor
Ausência de palavra e calor
Tempo de silêncio e torpor
Final da ordem sem cor
Nas mãos, nada como valor!
Continua com João, o tema é A insustentável leveza do ser
Ana Fernandes
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Um Luar

terça-feira, 23 de junho de 2009
Às De Ouros...

segunda-feira, 22 de junho de 2009
Regras do Jogo

Regras do jogo
Relapso? Preguiçoso? Atarefado? Eu?! Seja qual for a explicação, é forçoso reconhecer que não tenho escrito no blog com a freqüência que tinha prometido a João. Aliás, acho que o termo freqüência nem se aplica. Eventualidade, talvez. A culpa me perseguindo, assolando meu sono, mordendo meus calcanhares e todos os outros chavões possíveis, me fizeram parir uma idéia que, queira Deus, me obrigue a ser um pouco mais assíduo.
Gostaria de propor uma experiência. Uma criação coletiva. Envolvendo baristas e freqüentadores. Tipo: ao fim vou sugerir um título para a história e indicar um dos outros quatro escritores contratados pelo blog (por falar nisso, meu salário tá atrasado, hein, Jonesy?); o nomeado acrescenta um trecho (em prosa, poesia, foto, desenho, vídeo, diagrama, gráfico, sei lá) e nomeia o seguinte; àqueles que só podem comentar (os que não estão na folha de pagamento ainda), fica a tarefa de contar historinhas incidentais, que não alterem o rumo da história, mas que sirvam de cenário complementar; quando nós cinco (os eleitos) tivermos feito duas inserções cada, o próximo encerra a narrativa. Questões omissas serão solucionadas por (mim) uma comissão julgadora.
Pode ser que não fique uma obra de arte, mas, ao menos, me fará escrever dois posts, resgatará Beto do limbo e movimentará o blog, o que poderá gerar uma receita adicional de publicidade e a conseqüente regularização dos nossos soldos.
Ás de ouro. Continua, por Alessandro Medeiros.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Azulejos
Ontem mirei um céu de azulejos
E, perdido entre nuvens, ousei perguntar
Para onde voaram meus sonhos?
Que terras mais frias foram eles buscar?
Onde termina a verdade e se inicia a vida?
Céu de revelações
Azul salpicado aqui e acolá de prenúncios
Brancas maneiras de se sentir vivo
Vertigem, vórtice, veraneio sem fim
Uma tarde amena para enlevar a alma
Brisa quente desenevoando a percepção
Uma ou outra questão esquecida
Uma ou outra maneira de se dizer sim
Velas que não se apagam ao vento
Saudade todos os dias
Saudade de todo dia ser assim
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Doença Amiga

DOENÇA AMIGA
Nutro uma encefalopatia amiga
E a fibrilação de seu abraço
Desconecta minha afinidade com a vida
Como um suspiro antecessor à morte.
Existe algo que não me permito contar,
Acompanha-me ínclito da insônia ao álcool,
Da esquizofrenia à penumbra... e notívago
Anuncia-se com a vinda de uma dor confortante.
Então, ativando uma sensação atemporal,
Faço a noite circundar minhas lástimas:
Haraquiris sem honra, tardios.
Doença Amiga, seja intolerante!
E corte minha longevidade repentinamente
Para que eu não possa me despedir...
segunda-feira, 8 de junho de 2009
No canto da parede
Alguns acentos espalhados pelo chão
A pena vagueia incerta sobre o papel
Busca de palavras
Sentido ao caos
Em dias como este, quando a inspiração refugia-se acossada em um canto de parede, tudo é mórbida semelhança entre o desejo de expressão e o silêncio do escritor. Acorde desafinado sonhando com uma voz que lhe empreste o tom. E deste mato não sai substantivo, preposições ou interjeições suficientes para referendar o desagrado. Verbo é artigo de luxo. Síntese desaforada exigindo um objeto direto-indireto sobre o qual derramar sua gramática.
Subversão do texto
Contexto de artigos indefinidos
Adjetivos pejorativos
Silepse da alma
Versos mal sucedidos
Agonia descrita em quadras sem rima
Sete laudas percorridas
Sete narrativas perdidas
Sete linhas tortas
Sete plágios
Sete palmos de papel amassado
Seria tolice contar segredos no papel, não vês?
terça-feira, 26 de maio de 2009
Um Fusca, muitas histórias
Tenho um fusquinha, muitos de vocês já sabem. É um modelo 1300, cor bege, ano 1975. Gosto do meu em especial, mas gosto da aura que todos eles transmitem. Não sei explicar bem os motivos. Talvez seja o fato de ser um carro meio embrutecido, contudo capaz de suscitar os mais complexos sentimentos. Identificação? Transferência? Quem sabe, deixo as explicações psicológicas para Freud e seus seguidores. Talvez seja o fato da poesia contida em suas linhas simplistas, arredondadas, linhas que completam o horizonte moderno trazendo-lhe um pouco de nostalgia. Seria o motor zumbindo como um besouro?. And we all live in a yellow submarine, that’s right? Não sei… talvez seja tão somente amor, e amor não necessita explicações. Desde que o comprei, com meu mirrado, porém orgulhoso, salário de policial, os amigos entraram na onda e me ajudam a manter o meu sonho rodando. Um som aqui (salve Valcir!), um kit de amortecedores ali (salve Nunes!), uma palavra de admiração e desejo de ter um também (salve Alessandro!). Mas hoje ele está ali, parado, motor batido (misto de falta de óleo, vida agitada e descuido do proprietário...), e sinto falta de dar umas voltinhas. Certa vez fui ajeitar o escapamento avariado e ouvi uma das muitas estórias de Fusca contadas pelos apaixonados pelo velho sedã da Volks. O mecânico disse que havia comprado um modelo todo acabado e que após consertá-lo por inteiro, e provocar a inveja de metade da cidade onde morava, apareceu o verdadeiro dono do veículo. É que a pessoa que havia repassado o carro para o contador da estória não havia cumprido com as obrigações de pagar o financiamento do real proprietário que agora batia em sua porta afirmando que o banco estava a pleitear a devolução do besouro. O mecânico contou-me então que, mesmo apertado, nem morto devolveria o carro para o banco, honrou os pagamentos que faltavam e continuou a tripudiar da inveja alheia. Contudo, certo dia, uma morena espetacular que todos desejavam deu-lhe uma cantada que consistia em dar uma volta num Fuscão preto (justamente por conta daquele velho sucesso brega). Acontece que o Fusca dele não era preto e ele teve que emprestar o de um amigo. Com voz toda animada ele disse-me que a voltinha foi um “tremendo sucesso” e que, motivado pela bela morena, resolveu trocar o seu amado Fusca no Fuscão preto do amigo. O namoro seguiu por alguns meses em alta velocidade até o dia em que a morena não quis mais andar de Fusca e buscou conhecer outros motores. Agora já não tão animado, o mecânico quase sussurrou com voz melancólica: “cuidado com as morenas, meu amigo, cuidado com as morenas...”. É isso. Em todo lugar que chego há uma história de Fusca a ser contada. Talvez seja isso que me prenda tanto a eles, o gosto por histórias. Mas não chegando a nenhuma conclusão, digo o que farei a respeito do assunto: vez por outra conto os causos que escutar e, é claro, vou colocar o meu na estrada de novo para ter as minhas próprias aventuras para relatar.
Fome De Ti

E pelas ruas vou calado,
Não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,
Busco o som líquido dos seus pés no dia.
Estou faminto de teu riso maroto,
Tenho fome do calor de tuas mãos,
Quero comer o raio queimado da tua beleza,
O nariz soberano do teu misterioso rosto,
Quero comer a sombra fugaz de tuas palavras.
E faminto venho e vou “olfateando” o crepúsculo,
Buscando-te... o teu coração ardente,
Até que o sol torre a tua pele.
Para que possamos continuar vivendo...
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Poesia X Crítica - Crítica
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Poesia X Crítica

Sobre este assunto muita gente já falou. Para referendar o que estou dizendo, quero lembrar dois nomes deste blog: Valcir Ortins e Alessandro Medeiros. O primeiro, um crítico; o outro, poeta. Para complementar o raciocínio, cito o famoso escritor João Neto, poeta e crítico. Todos me ajudaram a compreender e a me aprofundar um pouco mais na discussão, que continua.
Ninguém ignora Valcir Ortins, categórico em afirmar a busca da objetividade na construção do verso; que a inspiração não é algo presente na sua obra; que o rigor formal e a consciência determinam a composição literária. Em parte, de certa maneira isso mexe comigo. Não pelo trabalho ou transpiração do criador, mas por não entender o fazer poético sem o bafejo da inspiração.
Acredito que o trabalho de arte deixa de ser essa atividade limitada, de aplicar a regra, posterior ao sopro do instinto. Também não se exerce nunca num exercício formal, de atletismo intelectual, logo o trabalho de arte está, também, subordinado às necessidades de comunicação.
Entretanto, essa mesma exigência é o que me leva a desvencilhar-me da forma poética. Quando as ocasiões da vida fizeram com que eu não continuasse a escrever, instintivamente, eu que quis ser ‘poeta’, comecei a fazê-lo conscientemente.
Mais tarde, descobri que a poesia profissional, tal como se deve manejá-la na elaboração de poemas, pode ser a morte da poesia verdadeira. Por isso, retornei à saga dos poetas, onde acreditam em um amor, seja ele por quem for, sim... no verdadeiro amor. Onde idealizamos e construímos pessoas e situações únicas para quem ama.
No meu entender, Valcir escreve sobre assuntos escritos pela vida, sim. Mas não ao “conto simples”, posto que uma das características principais nas suas obras é justamente a esmerada composição textual, o que faz com maestria. Aliás, foi também ele quem falou: “Uma referência a um grande poeta vivo. Melhor, morto.”.
Acredito que João Neto, na verdade, descobriu que era impossível viver sem a prosa. Logo, produz nas duas formas. O tempo mostra que o que poderia ser apenas uma questão de opção estética, era, a bem da verdade, a escolha da melhor maneira que o autor encontrou para se comunicar com o seu público, mesmo porque na prosa do romancista, desde o início até o final, há uma trama perceptivelmente bem trabalhada, elaborada de maneira miúda, minuciosa, com a preocupação de comunicar bem. Criando, inquestionavelmente, imagens recheadas de poesia.
Recorrendo então a um dos meus versos, para testemunhar que a poesia sem amor, é apenas poesia... e com amor ela se torna A POESIA. Que diz:
“Nada na vida tem um significado... sem um verdadeiro amor.”
A personalidade do escritor, ao escrever, é sempre seu maior obstáculo, pois é preciso encarcerar a personalidade no momento de escrever. Citei grandes nomes da literatura deste blog, só para relatar a grande e imensa importância da poesia e da crítica andarem juntas.
Grande abraço aos poetas e aos críticos.
sábado, 2 de maio de 2009
Eu, etiqueta
Em tempos que temos mais do que somos, um pouco das palavras do Drummond para reflexão...
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório um nome... estranho, meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca do cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei, mas não são comunicados aos meus pés. Meu tênis proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça aos bicos dos meus sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade e fazem de mim homem – anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos de mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que era antes e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana e invencível condição. Agora, sou anúncio, ora vulgar, ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer principalmente). E nisto me comprazo, tiro glória da minha anulação. Não sou - vê lá – anúncio contratado. Eu que minuciosamente pago para anunciar, para vender em bares, festas, praias, pérgulas de piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética? Hoje, sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram recolocam, objeto pulsante, mas objeto que se oferece com o signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de não ser eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem, meu novo nome é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Filosofia do cronômetro

O sol se põe antes mesmo de nascer
A noite é um inocente piscar de olhos
Dias seguem em martelo agalopado
Escuto o Zé contar seus segredos
Dê-me seu dinheiro
Eu preciso comprar um pouco de tempo para viver
terça-feira, 21 de abril de 2009
Aquele ponto no mapa
Não há o que se falar
Dança leviana repleta de símbolos
Arco voltaico
Ponte erigida que liga continentes
Linguagem obscena em tom de prece
É certo que desejos não se consumam com palavras
De certo há pecado que é melhor em braile
E são necessários muitos estudos em abril
De maneira a ler a mensagem da pele
Mapa cheio de segredos
Rota direta ao ponto de exclamação repetido ao infinito
A imaginação é mentira de perna longa
O suspiro exato do que a alma anseia
Enquanto a expedição não se pode consumar
Tem-se espera de progressões geométricas
A ansiedade prega peças ao desavisado
Não haverá viagem que revele o sorriso?
Nem mesmo escala que satisfaça?
Estrada que beire esse rio?
Não há pouso?
E o encaixe que se propõe em versos
Alcança o destino e incendeia
Converte o errado em certo
Reduz o maduro à criança
E esta sabe
Nunca houve mal-me-quer em seu jardim
Bem querer é sempre querer perto de si
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Um Adeus

Tão inocente como o céu.
Preso nele esta a última carta...
O último adeus cheio de fel.
Em um entardecer sombrio,
Lembro-me do teu triste fim.
Se jogaste como uma bituca de cigarro,
Em cima do carro... triste fim.
Um clipe de papel...
Cheio de dores, amargura... fel.
Nosso último entardecer...
Nos pomares de tuas curvas,
Tua pele macia, feito casca de manga madura,
Navego em teu corpo, em busca de prazer.
Antes um menino,
A correr pomares a catar frutas frescas.
Hoje homem...
Continuo a correr, agora por frutas virtuosas maduras.
Um clipe de papel...
Cheio de lembranças, ternura... fel.
Nesta carta você declara,
Nunca pertencerá a ninguém. O mundo aos seus pés... Te amei e a mais ninguém!
Mas o tempo cuidou da gente,
Cada um com seus caminhos,
Em busca de novas paixões...
Em busca do que nunca encontramos.
Neste clipe de papel,
Guardo nossas histórias,
Nossa vida, nosso tempo...
Hoje me jogo ao vento... ao fel. Um clipe de papel.
sábado, 11 de abril de 2009
Onde Nasce a Paixão

Oposição, discórdia, desarmonia...
Que quando perambulado com inteligência,
Nunca se encontrará inútil ao ser artístico.
Os amantes... sim os amantes,
Vivem a colidir frontalmente com a razão e a emoção.
É quando o desocupado coração...
Prescindi de qualquer ajuda.
Mas o que fazer?
A mente já não dá mais opiniões...
Amanhece e você se depara,
Que a noite foi curta para amá-la.
Frontalmente com olhares silenciosos,
Que mordem por dentro e por fora.
Insinuante de certa forma,
Querem se entregar ao tempo do agora.
Infinito quanto dure,
Esse amor, esse agora.
A nudez que calado aflora,
Ter o mundo colidindo lá fora.
Agora amada, nem os olhos verão
O teu toque em meu coração.
Nutridos de pecados e tentação,
Me levam para onde nasce a paixão.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Amor?

Mais uns versos...
Apreciem com moderação... Abraço a todos.
E obrigado pelas cobranças, só estimulam e me dão mais inspiração.
"A mãe terra está escura
E bem lá no fundo,
Também estou escuro.
Ando por um grande lago,
As águas refletem a noite,
Deixando a lua e as estrelas pra trás.
Amanhece o dia,
Mas, já não é o mais belo dos amanheceres.
Prossigo sozinho pelos campos,
Sina de quem ama, e que não precisa de amor...
E sim, de ser amado.
Quem é essa pessoa?
Tão forte, tão frágil
Tão homem, tão menino... que chora.
Que dor é essa que traz dentro do peito?
Só pode ser amor."
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Graciosa és tu mulher

Para começar Abril, gostaria de homenagear a todas as mulheres (que são a maior fonte de inspiração dos poetas) com esses versos que fiz em 2006.
Com Que Deus nos abençoou.
Fonte de força,
Que segue sempre segura,
No sorriso ou na dor.
Fonte de maturidade,
Que um dia foi menina...
Amanhã... Mulher.
Fonte de graça,
Graça, de um dia ser mãe...
Mães que educam o mundo.
Porém tu és mulher, tu és mulher.
Graciosa és tu.
Pura és tu.
Bela és tu.
Teus olhos refletem o amor,
Teu coração suporta a dor,
Teu espírito Deus abençoou.
Graciosa fonte de amor,Com Que Deus nos abençoou."
terça-feira, 31 de março de 2009
O que o travesseiro me conta
Quisera eu ter as cores certas para pintar a vida na aquarela que ela merece ter. Quisera ter noção do equilíbrio necessário e saber que a corda não é bamba. Mais bamba do que ela é quem nela se equilibra desde a primeira inspiração. Quisera poder expiar os pecados que assaltam à noite. Quisera poder entender o enigma, o sentido, a mentira, a verdade, a bula do remédio e tudo o mais que rouba o sono dos justos. Quisera ter um propósito, conhecer o encaixe, saber-se vivo, afugentar a morte e ser. Ou não ser? O acordo é simples e nele incluo o meu reino. Há algo de podre, o fantasma contou-me segredos em entrelinhas e o furto de palavras dá-me desejo de tomar veneno. Eu sei, é muito barulho por nada. Mas, quanto ao acordo, digo que me bastam algumas respostas, algumas cores e um cigarro ao entardecer. Pintaria a vida em tons amenos e com o pincel desenharia uma placa indicando o caminho a seguir. Quisera saber, de antemão, se mesmo tendo o mapa, a bússola e o compasso, se mesmo tendo lido o azimute com correição, se mesmo que a estrada fosse de ouro e comigo estivessem o espantalho, o homem de lata e o leão, eu não me desviaria para direita ou para a esquerda. Quisera poder respirar bons ares e me deixar seduzir por um sono tranquilo. Mas, por fim, amanhece o dia, e lá se foi mais uma noite em branco.
domingo, 29 de março de 2009
Primeiro Poema de Abril
A Ana Fernandes está com problemas de conexão. Pediu-me, então, para postar um poema do Mário Quintana. Aproveitando-me da situação vejo-me forçado a lembrar-lhe, Ana, que minha pele alva facilita, e muito, o estudo da corpografia...
Primeiro Poema de Abril
Vem vindo o abril tão belo em sua barca de ouro!
Um copo de cristal inventa as cores todas do arco-íris.
Eu procuro
As moedinhas de luz perdidas na grama dos teus olhos verdes,
E até onde, me diz,
Até onde irá dar essa veiazinha aqui?
(Abril é bom para estudar corpografia!)
quinta-feira, 26 de março de 2009
A Inveja é uma m... ou Frankenstein

Poetas para cá. Poetas para lá. Os poetas fazem muito sucesso nestas plagas. Movido pelo legítimo sentimento que intitula este post, a despeito da certeza de que não nasci para isso e na esperança de que, ao menos, meu esforço seja reconhecido, resolvi parir uma poesia também. Profundo desconhecedor desta arte obscura, resolvi tentar um método revolucionário de desconstrução. Ou anti-receita de bolo (com hífen ou sem hífen? - e- hífen com acento ou hifen sem acento?). Parti de uma estrutura clássica, sólida e de valor cultural incontestável:
Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Levo papai no bolso
E mamãe no coração
Acrescentei uma pitada de melancolia, quebrei a rima, para ficar moderno, atualizei as relações familiares, extraí o contexto pequeno burguês e mantive a parte mais pungente:
Batatinha quando MORRE
Se esparrama pelo SOLO
Levo o namorado da mamãe A SÉRIO
E a mamãe no coração
E... não estava funcionando. Saem pai e mãe. Mais versos, isso. Entram um toque esotérico, outro politicamente correto. Algo non sense. Algo religioso. Uma referência a um grande poeta vivo. Melhor, morto.
Hórus quando morre
Se esparrama pelo Nilo
Um elefante trago no bolso
Cigarros não trago nunca,
Buda que me livre!
Havia uma batata no meio do caminho
No meio do caminho havia uma batata
E... ah, esquece! Vou voltar à prosa.