terça-feira, 31 de março de 2009

O que o travesseiro me conta

(hand on the pillow by tju-tjuu - deviantart)



Quisera eu ter as cores certas para pintar a vida na aquarela que ela merece ter. Quisera ter noção do equilíbrio necessário e saber que a corda não é bamba. Mais bamba do que ela é quem nela se equilibra desde a primeira inspiração. Quisera poder expiar os pecados que assaltam à noite. Quisera poder entender o enigma, o sentido, a mentira, a verdade, a bula do remédio e tudo o mais que rouba o sono dos justos. Quisera ter um propósito, conhecer o encaixe, saber-se vivo, afugentar a morte e ser. Ou não ser? O acordo é simples e nele incluo o meu reino. Há algo de podre, o fantasma contou-me segredos em entrelinhas e o furto de palavras dá-me desejo de tomar veneno. Eu sei, é muito barulho por nada. Mas, quanto ao acordo, digo que me bastam algumas respostas, algumas cores e um cigarro ao entardecer. Pintaria a vida em tons amenos e com o pincel desenharia uma placa indicando o caminho a seguir. Quisera saber, de antemão, se mesmo tendo o mapa, a bússola e o compasso, se mesmo tendo lido o azimute com correição, se mesmo que a estrada fosse de ouro e comigo estivessem o espantalho, o homem de lata e o leão, eu não me desviaria para direita ou para a esquerda. Quisera poder respirar bons ares e me deixar seduzir por um sono tranquilo. Mas, por fim, amanhece o dia, e lá se foi mais uma noite em branco.

domingo, 29 de março de 2009

Primeiro Poema de Abril

A Ana Fernandes está com problemas de conexão. Pediu-me, então, para postar um poema do Mário Quintana. Aproveitando-me da situação vejo-me forçado a lembrar-lhe, Ana, que minha pele alva facilita, e muito, o estudo da corpografia...





Primeiro Poema de Abril


Vem vindo o abril tão belo em sua barca de ouro!

Um copo de cristal inventa as cores todas do arco-íris.

Eu procuro

As moedinhas de luz perdidas na grama dos teus olhos verdes,


E até onde, me diz,

Até onde irá dar essa veiazinha aqui?

(Abril é bom para estudar corpografia!)


Mário Quintana

quinta-feira, 26 de março de 2009

A Inveja é uma m... ou Frankenstein

Poetas para cá. Poetas para lá. Os poetas fazem muito sucesso nestas plagas. Movido pelo legítimo sentimento que intitula este post, a despeito da certeza de que não nasci para isso e na esperança de que, ao menos, meu esforço seja reconhecido, resolvi parir uma poesia também. Profundo desconhecedor desta arte obscura, resolvi tentar um método revolucionário de desconstrução. Ou anti-receita de bolo (com hífen ou sem hífen? - e- hífen com acento ou hifen sem acento?). Parti de uma estrutura clássica, sólida e de valor cultural incontestável:

Batatinha quando nasce

Se esparrama pelo chão

Levo papai no bolso

E mamãe no coração

Acrescentei uma pitada de melancolia, quebrei a rima, para ficar moderno, atualizei as relações familiares, extraí o contexto pequeno burguês e mantive a parte mais pungente:

Batatinha quando MORRE

Se esparrama pelo SOLO

Levo o namorado da mamãe A SÉRIO

E a mamãe no coração

E... não estava funcionando. Saem pai e mãe. Mais versos, isso. Entram um toque esotérico, outro politicamente correto. Algo non sense. Algo religioso. Uma referência a um grande poeta vivo. Melhor, morto.

Hórus quando morre

Se esparrama pelo Nilo

Um elefante trago no bolso

Cigarros não trago nunca,

Buda que me livre!

Havia uma batata no meio do caminho

No meio do caminho havia uma batata

E... ah, esquece! Vou voltar à prosa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O Fim é o Começo


Nos pegamos em momentos difíceis,
E gritamos ao mundo, “Por que comigo?!”
Olho para traz, e vejo erros...
Olho para o futuro... e vejo nada.

Quisemos o tu e o eu...
O tu do beijo, e o eu do desejo.
E assim será tudo,
Eternamente simples.

Hoje sinto o amor...
Então que o continue vivo.
A ti amei e cantei sobre todas as coisas...
Em ti... o fim é o começo.

Não há nada na vida,
Que não necessite do amor.
Não há nada na vida, que não tenha um significado...
Sem um verdadeiro amor.

Alessandro Medeiros.


Esse humildes versos são frutos do nosso cafezinho, onde estavam presentes Eu, João e Valcir. No decorrer de nossas conversas foi falado por Valcir essa frase “o fim é o começo”... que ficou em minha cabeça, e que fez surgir esses versos.
Abraço a todos que fazem parte do cafezinho!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Um Adeus


Sei que entenderás
Meu amor...
Que até aqui foram muitos caminhamos.
Dos mares de flores,
Flores e espinhos.
Entre razões e emoções,
Do céu ao inferno.

Imagino um motivo,
Para não dizer adeus...
Vejo suas mãos a me tocar,
Seus lábios a gritar...
Que faremos de tudo para voltar,
Ao mundo que construímos, para nos amar.

O céu está escuro,
As estrelas não querem brilhar...
Despedimos-nos com a lua a chorar.
No último beijo,
Grito que temos que viver,
Com os nossos sonhos de amor,
Sonhos de amar.

Será que vamos conseguir?
De nossos sonhos,
Será que esse cumprirá?
Sonhe, viva, ame...
Ele sim constrói a vida,
Este sim, renovará nossas vidas.

Alessandro Medeiros.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Meu Entregar



Vivia pelo chão, embriagado com minhas próprias lágrimas. Já meio fora de mim, pois num único minuto cabem muitos dias.
Dizem até que o amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? Do que a mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva.
Nem mesmo o sol, que a tudo vê, jamais viu outra que se lhe compare desde a origem do mundo. Sim, linda, sozinha, sem nenhuma outra por perto; ela e somente ela mesma pairando perante os meus olhos.
À noite, o olhar da minha amada flutuaria, tão brilhante que os pássaros começariam a cantar, pensando que já era dia. Neste dia peço-te para que me fales algo, meu anjo de luz!
Sei que existem muros em nossos caminhos, incluindo o medo. Pois também tenho medo de ser magoado outra vez. Mas sei que com as asas leves do amor, eu posso superar as barreiras pétreas.
Por isso peço instruções, instruções do amor, que foi quem primeiro me levou a indagar. Ele me aconselhou e lhe emprestei os meus olhos.
Mas... Adeus formalidades! Espero que não interpretes mal, ou como amor volúvel, este meu entregar. O difícil já conseguiste conquistar... Meu coração, que por ti não pára de chamar.

Esse texto foi feito, depois de ler um livro de William Shakespeare.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Conversando Com Botões

(Buttons by Nihilistka - DeviantArt)



Mensagem lançada em garrafa

Espero que um dia alcance destino

E sonho

Idealizo conversa na meia-noite de uma viagem com destino incerto. Traçado riscado em giz de cera. Tão bom seria não ser consumido por esta ansiedade de uma saudade do que não vivi. A vida passa e a carne já não se sustenta como antes. Tempos de glória fingida, isopor soprado pelo vento, praia que nunca dá maré cheia. O pesadelo do sonhador é acordar...

E sonho

Pudera dar de cara com a lâmpada

Um desejo só me bastaria

quarta-feira, 4 de março de 2009

Reencontro das órbitas celestes

(Twins Planets by JackPs - Deviantart)



Volta e meia

Ela sabe

Pensamentos estão lá

Mas as horas não batem o sino

Sincronia perdida em meio a afazeres dissonantes

E, de retorno, vê-se Marte fazendo guerra

É órbita desgarrada

Cometa com cauda longa

Planeta que dança e conta estrelas

Conta segredos no travesseiro


Ela sabe

Volta inteira e é reencontro

Pode estar depois da curva do vento

Calça botas e temos folhetim medieval

Moça que não dorme sono eterno

E que não aguarda na torre mais alta

Demanda desejos em horas fortuitas

Escancara verbo em cama que se quer desfazer

Faz da noite sua hora particular

Praça de guerra e paz


Saudade é palavra viva

Magia negra que faz o tempo infinito

Ela sabe

Também sente

E, no reencontro das órbitas celestes,

Traduz gemidos indizíveis em verdades absolutas

Nebulosas transformadas em supernovas

Céu que se abre em sorrisos

E corpos que repousam no vácuo preenchido

Cama desfeita