domingo, 31 de agosto de 2008

(Foto: Vista Aérea da Praia de Tambaú, João Pessoa/PB)



João Pessoa, 22 de Agosto de 2008


Caro Valcir,


Quão feliz fiquei ao receber sua tão agradável missiva e folgo em dizer que sim, você encontrou-me em paz e com todos os meus gozando de plena saúde. Cartas devem ser elegantes, mesmo quando ensejam más notícias, ou, sobretudo, nestes casos, mas a sua trouxe-me apenas boas novas e a certeza de que fiz certo ao finalmente dar-lhe ouvidos e resolver lançar-me à aprazível tarefa de abrir e manter um blog. Seja bem vindo, traga outros contigo, este é um espaço aberto para todos que se dão ao luxo de pensar diferente em uma época onde a cópia vale mais do que o original. Aguardo, também entusiasticamente, mais contribuições suas na certeza de que elas jamais serão irrelevantes.


Por pouco ia esquecendo-me de dizer-lhe que, na falta de dinheiro, não pude mandar estas poucas mal traçadas linhas via Sedex, o que me obrigou a mandá-las via postagem normal. Faço votos de que nossos valorosos carteiros não entrem em greve neste período (não por não merecerem, é bom que se diga) e que também os cães cariocas não sejam tão violentos quanto as inúmeras balas perdidas nos fazem pensar que são. Sempre fico maravilhado ao notar que estas mesmas balas sempre são encontradas pelos noticiários do horário nobre. Preciso argüi-lo: o Rio de Janeiro continua lindo? De qualquer forma, à torcida do Flamengo, aquele abraço!


Não se preocupe com as dificuldades tecnológicas, posto que não seja exclusividade apenas sua. A cada geração os nossos aparelhos ficam cada vez mais confusos e complicados de terem seu uso completo desvendado. Tenho certeza de que em pouco tempo eles virão com a seguinte inscrição nas embalagens: “Tão simples de usar que até um adulto consegue”. Mas sejamos otimistas, Bill Gates deve estar pensando em uma maneira de facilitar a nossa vida diante do computador, isso entre uma obra de caridade ou outra, ou entre um passeio no seu iate e uma viagem de helicóptero, o qual pode pousar no iate já citado. Às vezes não entendo por que alguém precisa ter tantos meios de locomoção, ele está fugindo do quê? Já seria maravilhoso se ao menos eles descobrissem uma maneira de impedir este notável sistema operacional de empacar qual mula teimosa. De que nos servem janelas fechadas, senão para juntar mofo?


Sou obrigado a admitir, sob pena de soar ligeiramente homossexual, que você possui uma presença física razoavelmente notável. Mas, daí a se parecer com o George Clooney, penso que seja um equívoco seu. Você está acima dele. Vejamos o porquê: o George é uma pessoa que me parece demasiadamente infeliz. Ele é milionário e possui um rosto muito conhecido por conta daqueles filmes que, vez ou outra, são blockbusters globais. Ou seja, mal pode dar um passeio na praia de Copacabana sem ser assediado, ou mesmo ser seqüestrado para sacar uns poucos dólares em um caixa eletrônico. E tem mais, noto que ele não consegue ter um relacionamento fixo há anos, sempre saindo com uma mulher diferente praticamente a cada semana. Pobre George, usado como objeto sexual por top models ninfomaníacas o tempo todo e nem ao menos se apercebe disso. Triste não? E já percebeu como elas são? Pernas longas demais, barrigas secas demais e seios grandes demais! Mas você não, caro amigo. Tem um emprego público que lhe rende o necessário para ser feliz (Bare Necessities, lembra-se?) e ainda lhe permite viajar vez ou outra por esse país maravilhoso de encantos mil que é o Brasil. Já fostes assediado na praia de Copacabana por algum fã chato querendo posar para fotos do Orkut ao seu lado? Além disso, você possui uma esposa devota que, noite após noite, deita-se ao seu lado. Ter sempre e exatamente esta mesma mulher nos seus braços cobrindo-o de atenção e afeto é ou não é uma sorte magnífica? Para concluir meu raciocínio lembro-lhe que você, de fato, lembra o Clark Kent, e que o George viveu o Bruce Wayne no pior filme da série já feito até agora. Viu? Você está anos-luz à frente dele e, para sua segurança, mantenha-se longe de qualquer pedra verde. Nunca se sabe se é uma esmeralda ou uma kryptonita. Melhor não arriscar!


Preciso dizer-lhe que a única coisa que me aborrece no momento é uma sinusite alérgica que teima em dizer que me ama e que jamais me abandonará quando, na verdade, de minha parte o relacionamento já se esgotou. Já me utilizei de diversos expedientes para pôr um ponto final nesta história, desde inalações de drogas (todas lícitas, que fique claro) até o uso contínuo de corticóides que provavelmente me transformarão em um barril de chopp (o que é a abstinência... faz você pensar continuamente naquilo que não se pode ter). No intuito de livrar-me deste mal que me assola já pensei, inclusive, a voltar a fumar, que, se não me curar, ao menos externará toda a minha revolta e frustração diante da situação (novamente, a abstinência...).


Por fim faço votos para que sua estadia na cidade maravilhosa seja cheia de sucesso. Por favor, mantenha-se longe do asfalto! Retorne para os seus com muitas histórias para compartilhar e com o ânimo renovado para continuar nos brindando com sua verve e estilo únicos.


Um grande abraço de todos que fazem deste blog o que ele tem que ser, um encontro de amigos.


Seu irmão em todos os momentos,


Jonesy.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

WWT (World Wide Telegraph)




Valcir, colaborador deste canto do hiperespaço, está pelas bandas do Corcovado e com dificuldades para acessar nossa página. Assim, enviou-me este telegrama solicitando a sua postagem imediata.
Está feito, segue abaixo.




Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2008.



Dear Jonesy,



Espero que esta te encontre em paz, e que os seus gozem

de plena saúde.



As cartas antigamente começavam de forma elegante, não?

Fico feliz que você tenha tomado vergonha na cara e criado

um blog seu.

Sem desmerecer o blog Philosophy on Paper Napkin

(e vossas contribuições).

Mas já estava na hora de você aceitar o insistente desafio

que te proponho desde 1937, em ter um espaço com a tua

cara, para dividir com o resto da humanidade

pérolas de sua sabedoria.



Contribuirei entusiasticamente. Que o fato de ter levado

3 semanas para colocar o meu

primeiro post (é assim que chama?) não o leve a deduzir

menor o meu entusiasmo. Levei 14 dias para conseguir

fazer o cadastro no blog.

Outros sete procurando o til (~) no teclado desse notebook.

Mas, eis-me aqui. Digitalmente anacrônico,

reconheço (não tenho orkut, não tenho MSN e Apple para mim

é a gravadora dos Beatles). Mas, como seu fã

incondicional, lutarei contra minhas incapacidades tecnológicas

para abastecer este espaço com considerações,

no mais das vezes, irrelevantes.

Como não encontrei entrada nessa joça de computador para papel A4,

mandarei via Sedex este e os textos seguintes. Anexos seguem

os retratos para ilustrar o texto (para o meu perfil, uma foto

minha em que pareço o George Clooney e uma foto da nossa

turma em que, estranhamente, parecemos a Liga da

Justiça – aquele de vermelho e azul sou eu).



Por fim, gostaria de externar a satisfação de encontrar por essas

bandas (largas), além de V.Exa., a Aninha, o Beto, Simony e a

Zélia, dentre outros. Folgo em saber-me em tão boas companhias.



Yours truly,



The angry mob.




domingo, 24 de agosto de 2008

Flores da primavera

Foto Zofia Klukowski/deviantart.com

Para os dias frios,
Sugiro, um chocolate bem quente
e um amor sossegado...
Um aquece o corpo
o outro, entusiasma a alma.
Para dias frios,
meias bem confortáveis
e um casaco de flanela!
Para dias frios,
Não basta que eles sejam frios!
É preciso senti-los, assim:
intensos, únicos, especiais...
Para dias frios,
falta substituir as meias,
por teus pés bem quentinhos...
o casaco,
pelo teu abraço aconchegante...
Para dias frios,
O bom mesmo é sonhar, lembrar de ti,
escrever, tomando um chocolate quente,
e esperar as flores da primavera!

Música Ambiente

(foto por Sankri - DeviantArt)


Vocês devem ter notado que agora o nosso coffee shop tem música ambiente. Pois é, foi uma luta deste que vos escreve para conseguir colocar esse troço aí do lado. Sabe como é, sei usar computador, mas quanto a essa tal de linguagem de máquina... que fique apenas para elas mesmo. Prefiro falar com seres humanos, apesar destes serem tremendamente mais complexos. E pensando nisso resolvi proporcionar um pouco de trilha sonora aos nossos bate-papos.

Notem que a lista de músicas é toda composta de canções de filmes. Lembrei de algumas músicas, umas clássicas, outras contemporâneas. Não poderia deixar de colocar O Poderoso Chefão (capisce?), Blade Runner (cacemos as máquinas e sua linguagem hermética!), A Marcha Imperial (que a força esteja com vocês), Carruagens de Fogo (em tempos de Pequim, por que não?) e Superman Main Title (salve Valcir). Coloquei também Hakuna Matata (os seus problemas, você deve esquecer...), The Bare Necessities (só o necessário, do filme Mogli) e I'm a Believer (Laura, minha filha, associou-se a uma comunidade intitulada "Meu Pai é Mais Legal do Que o Shrek". E eu acredito!). Tem também Bob Dylan, Audioslave e Jorge Drexler (e o Che disse que é preciso ter café para todos, lembram?).

Já perceberam que o negócio é eclético, certo? Mas não digam o preço ainda, pois tem mais! Você pode colaborar diretamente para que esta trilha sonora ganhe o Academy Awards! Basta mandar a sua sugestão e eu prometo que procuro na Playlist.com os embalos do seu sábado a noite. Não precisa ser hoje, não precisa ser agora. Vai lembrando e deixando o seu pedido nos comentários dos posts. Cabe até 100 faixas neste disco. Não temos nem vinte ainda. Mas lembre-se, obrigatoriamente tem que fazer parte da trilha sonora de um filme.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Relva Curta

(foto por Anovis - DeviantArt)



É em pó o sonho que traduzo em letras vulgares, e ela me diz, siga adiante. Vermelho de matiz violento. Cor de sangue, cor de suor, mas não há lágrimas. Ainda ouço a voz por mais longe que me vou. Siga adiante. Espiral de escada roubada de caracol, nunca descendo, subindo para o céu que não tem limite. E esse horizonte que nunca se alcança, não obstante as passadas largas? E essa dor que nunca sara, apesar de tanta química me dizendo o que sentir? A voz, ela continua. Siga adiante. Eu vou. Deixo túnica na relva verde junto da madeira onde marchetei teu nome. Sigo nu. Ouço conselhos que são bons e vêem de graça. Ouço outras vozes e me pergunto se sei onde deixei os sapatos que me deste. Prefiro seguir nu, sinto a relva. Sinto o vento, sinto muito, e desculpas não mudam o passado. Apronto a bagagem, o legado que carrego em mim, tua voz, siga adiante. Aponto o caminho, escrevo ninharias em tom de prece muda. Sigo adiante. Mas tão somente por que é desejo seu. De minha parte deitaria na relva, criaria raiz, e em mim renasceria você.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Café Donzelo

(Foto por Beccarekley - DeviantArt)



Sempre achei muito esquisito e até hoje não consigo entender o porquê das pessoas visitarem o túmulo dos seus entes queridos no dia do aniversário de suas mortes. O cemitério é justamente o local que representa qualquer coisa menos a obra, a vida, o legado da pessoa que era amada. Para mim é um bocado deprimente, primeiro que não há alegria nenhuma no ambiente, é tudo muito... muito... morto, com perdão do trocadilho. Assombra-me logo uma tristeza só em ver aquele monte de túmulos, que se soma à tristeza da perda do parente ou amigo que perdi. Acho ainda mais terrível quando as pessoas decidem ir ao cemitério no dia de finados. Primeiro que não vejo nenhuma razão palpável para se ter um dia especial para se visitar os mortos, eles não nos escutam, não nos vêem, não nos contam as novidades do além vida, então o que diabos, ou anjos se você preferir, as pessoas vão fazer lá? Depois, o cemitério se transforma num formigueiro, lotado de gente que vem e que vai, que trazem suas velas e suas flores, que choram, que riem, que contam piadas durante a visita, nada contra as piadas e a alegria, pois é certo que existem muitas maneiras de se homenagear a quem se ama. E é neste ponto que eu quero chegar, na homenagem.


Meu avô era um cara bem legal, nascido e criado no interior do estado. Tinha todos os predicados que fazem de um homem do interior um verdadeiro homem do interior. Foi com ele que minha família aprendeu que palavra dada valia mais do que palavra escrita. Honestidade, verdade, respeito às pessoas, eram coisas que deveriam fazer parte da nossa vida, tanto quanto a necessidade de respirar. Foi com ele também que aprendemos que era muito mais importante o amor partilhado e dedicado dentro de casa do que o volume da conta bancária. Era um homem simples que teve uma vida simples. Passou por maus bocados quando serviu ao exército e foi pracinha na Itália. Um belo dia, perguntei-lhe se ele havia matado algum soldado alemão, ele levou algum tempo para responder e me veio com um papo de que não dava para saber por que nos combates havia sempre muita fumaça. E logo depois mudou de assunto. Entendi de imediato que o assunto era proibido. Depois notei que ninguém na família tocava no assunto, principalmente os filhos, meus tios, o que me deixou ainda mais convencido de que deveria deixar a guerra para o cinema. Na vida real a coisa deveria ser bem diferente.


Dentro de casa era uma figura ímpar. Veio morar conosco na época da doença e morte de minha avó, sua esposa, primeira e única a preencher o seu coração com aquela certeza de que se está ao lado da pessoa certa. Quando minha avó morreu, ele ficou muito abalado durante um tempo. Vivia dormindo e confessou que gostaria de dormir sem parar, estava deprimido, o que nos deixou um pouco preocupados. Melhor dizendo, um bocado preocupados! Mas não tínhamos muito o que fazer, fora ajudá-lo a enfrentar a perda. Depois retornou aos poucos à sua jovialidade.


Ele fazia alguns dos serviços de casa como, por exemplo, lavar os pratos. Nos dias em que muita gente ia lá em casa para jantar ou almoçar e ficava aquele monte de louça sobre a pia ele exclamava, “isso aqui está pior do que cozinha de hotel”. Sempre com um sorriso maroto nos lábios. E sem reclamar mais, se é que isso era uma reclamação, se lançava ao trabalho sob protestos das filhas que se revezavam em mandá-lo sentar-se em frente a TV. Pensa que ele dava bola? Toda vez que vejo qualquer pia lotada de louça eu quase ouço a voz dele repetindo o bordão.


Ele gostava muito de assistir jogos de futebol e é daqui que tenho uma das lembranças mais vivas. Todas às vezes, todas mesmo, que fosse apitado um impedimento ele vinha com a mesma tese de que o impedimento deveria acabar, que não poderia existir tal regra, que no final das contas seria bom para os dois times se a falta não fosse mais marcada, e coisa e tal. Às vezes era engraçado vê-lo reclamar, outras nem tanto, quando por exemplo havia muitos impedimentos num jogo só...


Também com relação à TV ele reclamava dos finais de novela que achava sempre uma droga. Dizia que as pessoas passavam a novela inteira sofrendo ou em busca de um grande amor, e que no final só sobrava um mísero capítulo, e às vezes nem isso, para que elas fossem felizes. Antes de assistir a novela ele dava boa noite para Cid Moreira, no final do Jornal Nacional. Sempre respondia, sem ao menos se lembrar que o Cid estava a milhares de quilômetros de distância. Vai ver era só por respeito, ou por pena de não deixar a saudação do Cid no ar.


Os britânicos que me perdoem, mas mais pontual do que meu avô não havia ninguém. Por ter sido militar ele dizia o seguinte: “se nós marcamos uma ação para as dez horas, então dez horas é a hora, dez e um não é a hora e um minuto para as dez não é a hora. Dez horas é a hora”. Sendo assim, caso você marcasse uma hora com ele era melhor não atrasar, pois veria um homem bastante irritado, e como não era de sair distribuindo impropérios a torto e a direito, ficava com a cara amarrada e resmungando respostas monossilábicas. Muitas vezes vi essa cena, deveria ser difícil pra ele viver num país onde todo mundo acha que atrasar meia hora é perfeitamente normal.


Outra cena inesquecível era vê-lo jogar paciência. Ele sabia uma porção de tipos diferentes e se colocava a jogá-los durante a tarde inteira. Calado e concentrado de um jeito que fazia parecer que não havia mundo ao seu redor. Ensinou-me um jogo que dava para jogar de dois. Jogamos talvez umas dez vezes, ele ganhou todas, eu desisti.


Nenhum dos netos ousava enfrentá-lo, e olha que ele nunca levantou uma mão sequer para nenhum de nós. Também não precisava, bastava olhar. Não ficava pegando no pé de ninguém, deixava o barco correr solto, mas depois chegava junto para dar uns conselhos. Como eu disse, logo no começo, ele era um cara legal. Tinha toda a família do seu lado, e pode ter certeza de que ele junto com vovó fez um bom trabalho. Todos, ou quase todos, cresceram para tornarem-se homens e mulheres dignos do sobrenome que carregam.


Lembro da época em que eu, aluno secundarista, acordava cedo para ir para a aula. Ele acordava antes de mim, aliás, antes de todo mundo dentro de casa, e ia direto para a cozinha. Como bom nordestino, ele acreditava que um bom café da manhã tinha que ter cuscuz. Quando eu acordava o cuscuz já estava pronto, mas o café não, ele ainda estava passando o café, e como se fosse sincronizado (e talvez realmente fosse), chegávamos juntos na mesa eu e a garrafa. Tomar aquele café era um momento especial da manhã. Chegou uma época em que eu enjoei do cuscuz, mas do café nunca.


Certa tarde, minha mãe foi fazer umas tapiocas para o lanche e meu avô correu para ajudar fazendo um café. Foi quando ouvi pela primeira vez a expressão “café donzelo”. Não me agüentei de curiosidade e perguntei-lhe como um café poderia se donzelo. Ele me olhou com aquele ar de quem é sério por força do hábito, mas que estava rindo por dentro e disse-me, “filho, um café donzelo é aquele que é novo, quente e forte, entendeu?”. Claro, por que nunca havia pensado daquele jeito? Tomar o café de meu avô era como amar uma mulher virgem todos os dias, sempre nova, sempre intensa, sempre quente. Requentar café? Isso era apostasia. Tomar o famoso “chafé”? Aquele café ralo e frio? Isso era mesmo que tomar água de esgoto para ele. Ficar sem tomar café? Era o mesmo que a morte, que infelizmente um dia chegou à sua porta, assim como um dia chegará à minha.


Enquanto isso, quando me lembro dele e desejo homenageá-lo, ou passo um café como nos velhos tempos ou vou a um cafezinho e digo:


– Traga-me um café donzelo.

– Como senhor? Não entendi.

– Um café expresso, novo, quente e forte.


Acho melhor do que ir ao cemitério.

domingo, 10 de agosto de 2008

Pessoal e Intransferível

(Foto por Mr. Eletric Ocean - DeviantArt)

Ando na contramão de mim mesma...
Desacreditando no que as pessoas seguem
sentindo o tempo escorrer por entre os dedos
crítico, veloz, sem fim,...
inquietude de ter algo meu
nada material,
não de toda sorte,
algum lapso de pensamento pessoal e intransferível
desejo de não ser mais uma
em qualquer parte da multidão
não ser igual,
não ter igual
mundo utópico esse
chip instalado,
ligado
e em pleno funcionamento...
nada de novo no reino das mentes inquietas!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Considerações acerca da operação Satiagraha



Ando totalmente ocupada com o término da minha monografia, contudo uma notícia em especial, que não quer sair das páginas dos jornais, revistas, dos mais variados sites e das tvs, me chamou atenção nas últimas semanas. Trata-se da operação satiagraha da polícia federal, a saber, em sânscrito satia significa verdade, agraha significa firmeza, juntas significam firmeza da verdade.
Presos o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas, o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e outras 14 pessoas suspeitas por desvio de verbas, corrupção e lavagem de dinheiro. Houve ainda tentativa de suborno do por parte do banqueiro para não ser preso, em vão, pois logo foi preso com os outros envolvidos, e como aqui no Brasil a impunidade impera, logo também estava solto e preso novamente e sei lá qual é sua condição hoje...
Importante é não perdermos de vista que em nosso país reproduzimos, digo reproduzimos porque não somos seres dissociados do país, essa cultura da impunidade sem maiores problemas. Se um Juiz, autoridade máxima da lei, solta uma pessoa que foi devidamente e legalmente investigada pela polícia federal, como acreditaremos em justiça nesse país?
O caso é que provavelmente muita gente poderosa está envolvida nessas roubalheiras e como informação é poder, logo trataram de “dar um jeitinho” na situação de quem detém esse poder.
Penso que depois de tantas idas e vindas dos envolvidos e diante de tamanhas inverdades, no mínimo a turma do delegado Protógenes batizou a operação inadvertidamente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Café e Cartas

(Foto por Llexa - DeviantArt)


Há alguns anos, já tantos que não me lembro bem, eu e o Valcir iniciamos uma tradição que se mantém até hoje. Naquela época, sofrendo da síndrome das intermináveis e maçantes tardes de domingo, passamos a nos encontrar em um cafezinho aqui perto de casa e ocupávamos o tempo conversando, fumando e tomando litros dos mais variados cafés. Ainda hoje fazemos isso, não obrigatoriamente no domingo de tarde (inclusive, tem sido o horário em que menos nos encontramos), mas, sobretudo, na hora do almoço, ou em qualquer outra hora em que possamos nos juntar. É importante ressaltar que a tradição, que começou com apenas dois apreciadores, rapidamente foi adotada por parentes e amigos, os quais passaram a nos dar o prazer da companhia e da conversa jogada fora.

E foi em uma mesa de café que realmente conheci a Ana Fernandes. Também nas horas de almoço no intervalo do trabalho. O engraçado é que ela não toma café, aprecia apenas chás e chocolate quente. Embora, tenho que ressaltar que uma vez flagrei-a tomando um Café Russo (ou era um Inglês?), não importa o país, importa que na receita de um vai Vodca e na do outro vai Whisky. Será que foi nesse dia que ela se apaixonou por mim? Coitada. Se for beber, não saia à caça.

Acho que a tradição de se reunir no cafezinho diário teve suas raízes nas noites de pôquer. Não, não tomávamos café naqueles dias, tomávamos whisky, cerveja, cana, ou o que quer que apresentasse álcool no rótulo (estou usando o pretérito, mas isso ainda acontece, e devo dizer com pesar que na última rodada eu perdi dinheiro, perdi o sono e não bebi o suficiente...). Anote em seu caderninho a seguinte informação: a turma do pôquer também é, praticamente, a turma do café. A conversa jogada fora no pôquer, também é a mesma do café. O que se ganha no pôquer, e não falo do dinheiro, também é o mesmo que se ganha no café. São momentos que, perdão pela propaganda, não têm preço.

Alguns amigos estão longe, como o meu irmão Roberto. Mas ele é membro titular de ambos os clubes e estará conosco nesta versão virtual. Não sei sobre o que ele pretende escrever, mas se for falar de sua paixão (depois de você, Simoni!) então teremos boas crônicas futebolísticas. Outros amigos serão adicionados aos poucos. Alguns, eu sei, terão reticências em participar de uma versão virtual das nossas rodadas de Café e Cartas, mas certamente estarão presentes de uma maneira ou outra.

Então a historia é mais ou menos essa que contei. E aí você pergunta agora: sobre o quê vocês falarão? E eu respondo: sobre nada, sobre tudo, sobre o que der na cabeça. Hoje falaremos sobre a Venezuela de Hugo Chávez, amanhã discutiremos a desproporcionalidade harmônica da bunda da Mulher Melancia, depois comentaremos o novo disco do Coldplay (que não gosto, mas Valcir e Ana curtem). Teremos crônicas, poesias, vídeos, músicas, frases curtas, longas dissertações. Teremos uma mesa, café, cartas jogadas e cartas escritas. Teremos um bom papo entre amigos. E pronto, será assim.