quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Suposições e esperas

(foto por Tech Overide - DeviantArt)


Suponho impossível
Logo sonho
Acordo
Vou à varanda
Acendo cigarros
Espero a revelação

E das muitas questões que surgem, poucas respostas tenho para dar. Não sei explicar nada que entendo. Minhas pretensões apocalípticas evanesceram-se ao reconhecer que necessitava pagar contas. Não as minhas. As alheias.

Suponho impossível
Logo faço orações

Joelho no chão

Mãos apontando o céu

Faço jejum

Espero a revelação


Dias incontáveis em mórbida espera. Não faltam açoites e simulacros de penitências. Não sei fazer promessas, posto que não sei como pagá-las. Tento sondar o insondável. Silêncio perturbador. Não o meu. O alheio.

Suponho impossível
Logo faço ameaças

Dramas infantis

Receita de desastre

Redijo demandas

Exijo uma revelação


A vida passa rápido. Não parece apontar para um Nirvana possível. E eu sei que tragédias anunciadas são adoráveis roteiros de filmes B. O lado avesso é confortável, o vizinho é mais feliz, há uma mosca na minha sopa, espero a propaganda acabar, tomo café com menta, ouço música que me faça pensar bobagens.

Aguardo uma revelação
Poucas palavras sábias

Um gesto

Sinais de fumaça

Aguardo, mas logo
Suponho impossível

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Aviso aos Navegantes

(foto por Barborush - DeviantArt)


Ando um bocado ocupado. Coisas da vida. Trabalho (muito trabalho) e mais umas outras demandas que roubam tempo como político rouba esperança. É uma fase como outra qualquer, há de passar. Mas enquanto não passa os posts devem aparecer mais espaçados.

Não prometo nada, mas acho que domingo que vem vou ter tempo de postar alguma coisa nova.

Despeço-me macambúzio. Adoro escrever, bem como adoro ler vocês, visitantes fiéis.

Grande abraço.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Preço

(Imagem por A Constant Brother - DeviantArt)

É o preço a pagar por pensar. O preço a pagar por sentir. Dane-se essa maldita capacidade de se colocar no lugar do outro. Empatia, dizem os psicólogos. Fraqueza, dizem os que dominam. Caráter, dizem os manuais de boa educação. O homem atravessa a vida e assiste a sua obra desmoronar. Chega à meia-idade e questiona-se. É o preço por saber pensar. Ir um passo além do noticiário da TV. Ir um passo além do livro sugerido pela lista dos mais vendidos. Ir além e adiante. Shazam! Nada aconteceu e ele continua ali, no meio da multidão, sozinho, querendo saber por que a galinha atravessou a rua. E, afinal, quem veio primeiro, a covardia ou o conformismo? Olho de Thundera, dê-me a visão além do alcance! E seus óculos já não lhe servem, e a ideologia distorce a realidade, e a fatura do cartão chegou, e a mulher ligou pedindo pão e ovos, e a filha ligou dizendo que vai sair com aquele drogado-tatuado-cabeludo-motoqueiro, e ele tem provas para corrigir durante todo o final de semana. É o preço a pagar pelas toneladas de filosofia estudada, por haver retrocedido quando deveria seguir adiante, por não ter desferido aquele soco no colegial, por preferir a diplomacia ao invés da força. Deve haver uma maneira. Deve haver uma via. Deve haver algum livro de auto-ajuda que lhe diga o que fazer. Lá fora, fora de si, deve haver um lugar onde não se possa se esconder. É o preço a se pagar. Tudo gira em torno do capital, e sobre tudo há imposto, nervo exposto da carne que é fraca e apodrece aos poucos sobre os ossos cansados e descalcificados pela Coca-Cola. É estranho, é sórdido, é, ao mesmo tempo, tão comum quanto mentira virar verdade estampada na primeira página. É o preço. O apreço àquilo que não trará bonança. A dança, a valsa, o xote daqueles que não possuem culotes. E onde está o meu Deus ex-machina, pergunta-se o desavisado protagonista desta ópera grega em mal maior. E ele sabe que no fim não haverá ninguém para amarrar as pontas da história. É o preço. É o preço da ausência do freio, da ausência de fé. Das luzes que cegam e não indicam a saída de emergência. E ele entra na farmácia, precisa de pílulas que lhe tragam sono e sorriso fácil. Pague no caixa, diz a atendente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fight Club

Hoje eu vou deixar uma outra pessoa falar por mim. E, em se tratando do Clube da Luta, não poderia ser diferente, certo? Gosto da letra. Acho que ela fala muito e fala sobre assuntos que, algumas vezes, nos recusamos a enfrentar. Esta é a nossa vida? Não sei, mas vale a pena uns minutos de reflexão.

Dedico o post aos amigos Valcir e Richard... bem como ao poste que um dia pagou o pato!

If this is your first night, you have to comment.

Enjoy Dust Brothers.



This Is Your Life

tecla SAP

And you open the door and you step inside
We're inside our hearts
Now imagine your pain as a white ball of healing light
Thats right
Your pain, the pain of self is a white ball of healing light
I dont think so

This is your life
Good to the last drop
It doesnt get any better than this
This is your life and its ending one minute at a time

This isnt a seminar
This isnt a weekend retreat
Where you are now you can't even imagine what the bottom will be like
Only after disaster can we be resurrected
It's only after you've lost everything you are free to do anything

Nothing is static
Everything is evolving
Everything is falling apart

You are not a beautiful and unique snowflake
You are the same decaying organic matter as everything else
We are all part of the same compost heap
We are the all singing all dancing crap of the world

You are not your bank account
You are not the clothes you wear
You are not the contents of your wallet
You are not your bowel cancer
You are not your grande latte
You are not the car you drive
You are not your fucking khakis

You have to give up
You have to realise that someday you will die
Until you know that
You are useless

I say, let me never be complete
I say, may I never be content
I say, deliver me from swedish furniture
I say, deliver me from clever art
I say deliver me from clear skin and perfect teeth
I say you have to give up
I say evolve, and let the chips fall as they may

I want you to hit me as hard as you can (x2)
Welcome to fight club
If this is your first night - You have to fight

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Quando Escrevo


(Foto por Porc3lain Doll - DeviantArt)



Quando escrevo

Descrevo a letra que faz dicionário

Construo ponte para o imaginário

Teço rede para dormir

Para pescar

Para conectar

Concedo o sentido que quiser

O que melhor aprouver

Ao meu escrever

Quando escrevo

Lanço verdade contra o vento

Conto causos, conto tostões

Canto beleza de calar a voz

Encanto sereia com meu falar

Traço castelos no ar

Quando escrevo

Arquiteto o futuro

Refaço o passado

Aprecio o presente


Escrever é verter o caldo difuso e confuso que se forma na mente. É traduzir-se em palavras que nunca alcançam o verdadeiro significado pretendido. É expor-se por charadas. É fazer-se presente mesmo quando já se foi.


Quando escrevo

Transcendo

Fujo à regra

E não censuro

Não questiono

Não explico

Escrevo

Vassouras 2

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vassouras



Este é um projeto que venho maturando já há algum tempo. Não havia postado antes por achar os desenhos ruins. O fato deles estarem aqui não significa dizer que estou mais sem-vergonha. Talvez, e apenas talvez, indique que eu esteja mais corajoso. Espero que gostem das minhas vassouras.

Ps.: Não consegui descobrir uma maneira de postar o desenho em um tamanho bacana. Depois de horas brigando com a tecnologia fui vencido pelo cansaço. Aos amigos leitores que tenham problemas de visão, sugiro clicar na imagem para ela ficar maior. Desculpem o incômodo, vou continuar tentando encontrar uma maneira de colar a imagem em um tamanho maior.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sonhos Que Não Recordo

(Foto por Liquid Kid 1 - DeviantArt)



Sei que escrevo palavras tortas

Mas sigo a linha

E rezo pela cartilha

Pela sua maldita cartilha

Sustento meus vícios

Beijo nuvens em sonhos que não recordo

E rego as flores no jardim

As suas flores, o seu jasmim

Passou outono, inverno, primavera, verão

Um dia a mais caminhando

E faço aniversário

Comemoro pouco, bebo muito

Mover, mover, mover, mover

E não se sabe para onde se vai

Até Deus teve um dia de descanso

Quando você permitirá o meu?

Trago livro, traguei muita fumaça

Hoje faço poema, escrevo ilusões

Mágica na ponta do lápis

Devaneios e sonhos que não recordo

Sonhos que não recordo

Sonhos que não recordo

Abri mão de mim

Piada mal contada em salão de festa

Perdido de mim

Sinal de fumaça a milhas de distância

Vejo-me passar sozinho no outro lado da rua

Rasguei umas folhas de embrulhar pão

Espero, ao menos uma vez

Lembrar dos meus sonhos

domingo, 19 de outubro de 2008

Acenda um Cigarro e Ouça Boa Música

(Foto por Karma Police 881 - DeviantArt)



Neste momento não reflito sobre muita coisa além do necessário. Desprezo ninharias, converto santos à minha religião e confesso pecados inacabados. Há maior arrependimento do que daquilo que se desejou fazer e não se fez? Relógio percorre caminho em voltas sem fim. Pirueta descendente qual avião desgovernado rumo ao chão. Assim é o tempo. Assim esvaem-se os momentos, ficam-se os anéis, contam-se os dias, perde-se o vigor e, no ocaso, somos velhos farrapos contando vantagens infantis. Tenho bloquinho onde rascunho idéias, mas nunca as leio novamente. Idéias deitadas em papel não fazem verão, não movem moinhos, não são merecedoras de releitura, não põem o café na mesa para o desjejum. O conforto que resta é saber-se sonhando acordado. E o pânico discreto que nos aflige vem de descobrir-se piloto do avião que faz piruetas rumo à realidade da existência. O caminho para o fim. A finitude humana frente ao universo. A angústia de acreditar-se uma mera marionete. Salvem Kierkegaard da religião, dizem os filósofos. Salvem Kierkegaard da filosofia, dizem os religiosos. Aproveite a paisagem, diz a auto-ajuda. Estoure os miolos, diz a razão. Acenda um cigarro e ouça boa música, digo eu.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Primazia Primata

(Gravura por Loyin - DeviantArt)



Somos escravos. Massa disforme e conforme mandam nossos delírios de grandeza. Colhemos em plantação alheia, escrevemos bilhetes de geladeira, beijamos sem prazer e, obcecados, açoitamos nossos amores e os reduzimos a pó. Somos meliantes, somos forasteiros, somos balzaquianos, somos freudianos, somos lacanianos, somos tese de doutorado, somos, no fim de tudo, estatística do IBGE. Verborrágicos, lacônicos, arrogantes e pretensamente verdadeiros. Somos pré-conceitos. Somos o supra-sumo da criação, o máximo da evolução e, em nossa megalomania, não abrimos nem para um trem. Fingimos inocência, pesar, choro e ranger de dentes. Tememos a morte, a senilidade, a falta do desejo, a bomba atômica, o velho do saco, as idéias de Bush e as calorias da torta de morango. Tememos os ratos e votamos neles para governarem nossos recursos. Ajoelhamos todos as noites de braços dados com Sade e Sacher-Marzoch e nos masturbamos xingando, atanazando, vendando, espancando, chicoteando, batendo, queimando, estuprando, esfaqueando, estrangulando e mutilando a nossa vida.Somos escravos. Mentimos sem o menor rubor para mantermos o status quo. Somos covardes. Somos um caldo difuso, expressão cáustica de um não-viver atônito, perplexo e sem destino. Montamos uma farsa com base em uma cultura digna dos piores vitupérios, violada e volatilizada ao sabor dos mercados. E não nos damos conta. Caminharemos até o fim do mundo como Alice, o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata: de braços dados e recitando poemas mal acabados. Somos escravos. Somos primatas. Macacos treinados brincando de deus em troca de bananas. Somos a primazia do mundo que alegremente arremessamos na latrina.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Senhor do Tempo

Foto por Caleum - DeviantArt




O poeta lança grãos

Colhe vento

Colhe ventania

Colhe garoa, chuva, temporal

O poeta, senhor do tempo

Faz sua própria previsão

Dia claro, folha em branco

Busca palavras

Cria vocabulário

Dança a pena sobre o papel

Escreve para si, encontra o outro

Abraço literário

O poeta, este senhor do tempo

Cria o clima ao bel prazer

Faz sol se esconder

Traz nuvem só para regar jardim

E suas flores lançam a verdade do dia

Convite à fantasia

Festa, ode, poesia

O poeta faz sua previsão com rebeldia

Quem pode resistir

Ao senhor da boemia?

sábado, 20 de setembro de 2008

Tarde de Domingo

(foto por Alexbalix - DeviantArt)

Os últimos acordes de alguma canção do tipo sofra-e-deixe-sofrer soavam do seu aparelho de som, ele procurou a carteira de cigarros e percebeu que em breve estaria sem pregos para o seu caixão. Era sempre assim e, principalmente agora, parecia ser mais evidente o grande complô que o mundo havia arquitetado contra ele. Sem dúvida alguma ele era um derrotado.

O quarto estava uma bagunça só, e o único pensamento que lhe ocorreu era o de que se ela estivesse ali, tudo seria diferente. Lembrou o quanto odiava ver cada coisa em seu determinado lugar, mas pareceu-lhe que o ódio das certezas seria suportável ante o peso da solidão. Não importava, o que aconteceu, aconteceu, e agora só lhe restava a certeza de não ter mais nenhuma. Nenhuma alegria, nenhuma harmonia, nenhuma mulher, nada. Havia um computador onde poderia escrever suas desesperanças, mas não havia mais desejo. Junto ao computador estava a TV, mas o que assistir num Domingo à tarde? Na estante, os livros e a assinatura da sua revista preferida. Uma pilha de notícias intocadas. Roupas, sapatos, pentes, a escova de dentes jogada no chão na trilha que as formigas faziam. Pensou que pelo menos alguém estava fazendo algo de produtivo e, logo em seguida, surpreendeu-se vendo quantas bobagens um solitário tedioso pensava numa tarde sem fim.

Numa das mãos o cigarro lançava sua fumaça mágica, fazendo piruetas indescritíveis. Na outra, o revólver pesava como se fosse uma bigorna. Sentiu um certo calafrio. Repetidas vezes lembrou-se das maldições bíblicas a respeito de suicidas, mas ele também não tinha certeza se acreditava ou não no que leu. Estava disposto a arriscar, o inferno não poderia ser pior do que o que ele estava vivendo agora. Pensamento terminado, gesto automático de pegar mais um cigarro. Olhou de soslaio para o revólver. Ele olhou de volta com sarcasmo...

Uma rápida checagem ao redor lhe garantiu que não tinha ninguém em casa. As vozes assombradas que escutava vinham de sua mente. O revólver continuava a sorrir e, de sua parte, pouco se importava. Ria canalha. Talvez você me tenha, talvez não. Não tinha certeza de que o mecanismo funcionaria, nem de que a munição estava em condição de disparo. Comprara a arma de um conhecido malandro, que lhe garantiu de pés juntos como um santo, que o produto, apesar do aspecto suspeito, estava em sua plena capacidade funcional. Não importava. Poderia pular do prédio, a queda era pequena, mas caindo da maneira correta tinha poucas dúvidas que conseguiria consumar sua intenção.

O Ministério da Saúde gasta uma soma incomensurável para convencer as pessoas de que devem transar de camisinha. Ele pouco se importava. Com, ou sem, nunca deixava de sair com uma garota. Um belo dia, um dos seus amigos foi agraciado com uma DST séria, nada incurável, mas dava uma dor dos diabos. Ele ficou impressionado com o sofrimento do camarada. Ambos comemoraram com uma cervejada inesquecível quando o tratamento acabou e passaram a noite conjeturando que poderia ter sido muito pior. Ele passou a usar a camisinha como um ritual quase religioso. Viu-se até na inusitada situação de recusar uma boa transa. Tudo bem, tudo em nome da saúde.

Mas sobreveio a paixão, uma paixão verdadeira. Carnaval, bloco na rua, bebida, ela longe de casa, ele louco por ela, ela manhosa, ele sem camisinha. Nove meses depois, um filho. Sem dúvida seu.

A partir daí tudo mudou. Aceitou a idéia de que estava na hora de se acalmar num canto, de montar família, ser um senhor de respeito. Pensou até em deixar o bigode crescer, sabe como é, homem que é homem tem um. Ela não deixou, ele só fazia sorrir. Meses depois veio o acidente, foram-se todos. Veio a bebedeira, foi-se o emprego. Chegou a depressão, foi-se a vontade de viver.

Levantou-se do sofá para mudar o disco. Detestava sofrer no silêncio. Buscou alguma coisa dolorosa entre a sua coleção de LP’s e botou para tocar. Bebericou da aguardente, coçou o saco, soltou um pum. Percebeu-se olhando fixamente para o cano do revólver, que olhava fixamente para o seu cérebro. Por um momento jurou ter visto o cano piscar de maneira sacana. Que escroto. Ainda tinha alguns cigarros. Decidiu-se dar o tempo deles. Depois descobriria se fora enganado ou não quando comprou o revólver. Mas só depois. Por enquanto vamos assistir as formigas trabalharem.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Contando o tempo

(Foto por Haxonite - DeviantArt)




Por vezes,
tua ausência me importuna, excede.
Não por veleidade,
ansiedade legítima
de uma nova estação
que não se apressa
ou não tem pressa
espero, conto o tempo
congelo minhas vontades...
Até quando?
Quem sabe?
Liga não, sou assim
misto de alto grau de ansiedade
e desejo de ti
puro e simples.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Lascívia




"Let's get it on
Let's get it on
You know what I'm talkin' about
Come on baby, hey hey
Let your love come out
If you believe in love
Let's get it on
Let's get it on, baby
This minute, oh yeah
Let's get it on
Please get it on"


Marvin Gaye, in Let's Get It On

[letra completa]

[tecla SAP]



Lascívia, ou

Sim, há um lado ligeiramente cafajeste em mim


Mas eu sinto a sua presença

O perfume almiscarado

Do seu sexo

Lascivo

Sinto-me lascivo

Fecho os olhos

Sonho

Uso artifícios

Meros fogos de artifícios

Igual aquarela

Tintas e cores fortes

Que o vento espalha

Que traz saudade

Que gera desejo

Que gira o mundo

Que move montanha

E de cada minuto vivido

Nenhum desperdiço

Senão pensando em seu abraço

Aconchego em breve

Espera

Põe os olhos no horizonte

Põe a mão no fogo

Põe a aposta na mesa

Põe lenha na fogueira

Espera

Chego

Em breve

Para tatuar

Meu corpo

No seu

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Two of Us

Two of us riding nowhere
Spending someone's
Hard earned pay
You and me Sunday driving
Not arriving
On our way back home
We're on our way home
We're on our way home
We're going home

Two of us sending postcards
Writing letters
On my wall
You and me burning matches
Lifting latches
On our way back home
We're on our way home
We're on our way home
We're going home

You and I have memories
Longer than
the road that stretches out ahead
Two of us wearing raincoats
Standing so low
In the sun
You and me chasing paper
Getting nowhere
On our way back home
We're on our way home
We're on our way home
We're going home

Lennon / McCartney

Alguns chocolates depois...

(Foto por Tiggey - DeviantArt)

Tenho problemas com regras, desde a infância sou insubordinada, assim diz minha orientadora do Estágio, mas, não é uma insubordinação à toa, só não quero aceitar tudo que me dizem sem questionar. Não contava que isso seria um caminho difícil a trilhar. Estou há quatro meses produzindo uma Monografia, a saber estou me graduando em Serviço Social, nela quase nada é meu, tudo basicamente de outras pessoas, já consagradas como teóricos respeitados na área social, aí me pergunto: se eu não posso escrever o que penso, como esse trabalho é meu? Ah deve ser pelo nome que tem na capa, pois juntar idéias de outras pessoas e assinar para mim é plágio, mas a Universidade diz que não. Então,nesse momento estou na expectativa para defender o que não é meu e ainda assim obter êxito, não obstante as normas da ABNT, a falta de luz e os cartuchos que acabaram no momento mais indevido. Ademais, um cansaço interminável e uma sensação de alívio por ter terminado a primeira etapa desse processo. Alguns chocolates depois e plagiando o que um amigo do João falou “vou fazer Mestrado, se sobreviver vou fazer Doutorado e aí quem sabe deixo de copiar o que outras pessoas escrevem e passo a ser respeitado como referência na arte de escrever”.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Crise dos Sete Anos

Crise? 11 de setembro de 2001... as torres gêmeas foram atingidas e o mundo mudou para pior... 10 de setembro de 2001... meu coração foi atingido e minha vida mudou... para melhor!

Esse ai é o meu presente...

Passei algum tempo nesses dias pensando em escrever algo, que pudesse descrever o quanto a nossa vinda pra Teresina significou pra mim.
Não sei exatamente como poderia começar, nem se vou terminá-la ainda hoje, mas queria muito que todo o meu sentimento pudesse ser traduzido com palavras e que elas viessem parar aqui tecladas por um duende. Mas já se passaram cinco minutos e a página continua em branco. Então, pelo visto, terei eu mesma que continuar a escrever, já que os duendes devem estar ocupados participando de algum filme que mostram que eles existem, ou brincando de esconde - esconde no jardim da Xuxa.
Não queria começar com frases prontas, mas vamos lá... “Podemos não entender os desígnios de Deus, mas Nele nos basta acreditar”. Foi assim desde o início. Muitas noites, e você não têm idéia de quantas, pedi a Deus que eu pudesse encontrar uma pessoa pela qual eu me apaixonasse, e ela por mim, casasse, mas que eu permanecesse na mesma cidade pelo resto dos meus dias. Tudo que eu queria era só um pouco de estabilidade, cotidiano, amigos de muito tempo, conhecer todas as ruas da cidade, conhecer todas as lojas do centro... O que eu não sabia, é que Deus me atendeu. Encontrei uma pessoa, pela qual me apaixonei e ela por mim, encontrei uma pessoa que está disposta a viver feliz junto comigo, que está disposta a se doar pra vida junto comigo e que dessa forma, estarei feliz esteja onde eu estiver, porque é estando ao seu lado que saberei crescer, suportar e enfrentar os desígnios que Deus tem pra mim, aliás, pra nós.
Mas na hora é difícil entender. Por que Deus faria isso comigo novamente? Eu achava que todas as minhas forças de enfrentar novas situações já haviam sucumbido. Mas, vamos lá, “quem está na chuva, é pra se molhar” (nossa, como essas frases prontas nos ajudam ehehehe).
E Ele, como acabamos de ver no filme “A volta do todo poderoso”, não nos deu o amor, mas nos deu a oportunidade de amar, nos deu a oportunidade de nesse casamento encontrarmos a felicidade como seres humanos, o verdadeiro significado do que é amar. Nos deu, com a nossa união, a oportunidade de aprender que na vida nem sempre é do jeito que planejamos, (estava tudo planejado na minha cabeça morarmos pro resto de nossas vidas em João pessoa, numa casa com filhos, cachorro e uma vizinha bem chata que eu pudesse reclamar dela todos os dias) que mera pretensão acharmos que planejamos algo nessa vida. Mas no nosso casamento temos a oportunidade de encontrar a paz pra crescer, suportar e enfrentar o que nos foi planejado. Então me questionei mais uma vez, e pensei: Por que não podemos saber o que nos vai acontecer pra que pudéssemos nos preparar psicologicamente? (falei “psicologicamente?” que ironia!!!! E eu pensando que a psicologia dos livros pudessem servir para compreender os desígnios de Deus) . E de alguma forma, dessas que não entendemos como, nem quando, acordamos com a resposta na cabeça, com o coração acalentado depois de uma noite cheia de questionamentos, ele me respondeu, (acredite, Deus ouve minhas orações e fala comigo todos os dias através do livro sagrado e do comportamento de outros homens e mulheres que vivem ao meu redor) e disse que não nos interessa o futuro. O que importa é o hoje, é como faremos pra viver apenas o dia de hoje. Beleza, ele só esqueceu de me dizer como conseguimos nos preocupar só com o dia de hoje, que pra ele deve ser apenas um detalhe, claro. E aí ele me deu as tarefas domésticas, as quais eu posso morrer de limpar a casa, mas ela não permanecerá limpa por todo o meu futuro, eu tenho que limpá-la todos os dias. E depois ele me deu algumas metas... permanecer com a casa sempre limpa e organizada, mas não a casa física, (essa acho que estou conseguindo fazer o meu trabalho direito) mas a casa mental, meu corpo, minha mente. Não basta eu acordar apenas um dia feliz, com disposição pra malhar, motivada pra estudar, que eu não conseguirei ficar magra pra sempre ( e isso dá pra perceber né ehehehe), nem inteligente pra sempre, eu tenho que malhar todos os dias, eu tenho que estudar todos os dias, eu tenho que cozinhar todos os dias, porque todos os dias precisamos nos alimentar de comida não só para o corpo, mas para a alma também. Porque o futuro só pode existir se fizermos algo hoje. “Só por hoje”, parece que ele já havia conversado com Renato Russo, mais alguns milhares de poetas e mais uma centenas de compositores, escritores que possuem músicas, poemas e livros que costumam dizer essa famosa frase “Só por hoje”. Parece que a fila é grande e eu estaria um pouco atrás, aliás, bem atrás, que só fui entender isso agora. Mas “sempre é tempo de aprender” !!!
Agora devo ter compreendido um pouco mais sobre a vida. Que venham as outras filas, que venham os outros acontecimentos!!!! Só por hoje, estou disposta a enfrentar tudo, mas com você sempre ao meu lado.

Simoni OLIVEIRA

domingo, 7 de setembro de 2008

Estante

(Foto por Atomic Time Bomb - DeviantArt)


É setembro e lembro-me de escrever
Em minhas mãos, argila
Em meu corpo, marcas
Em meu relógio, tempo
Em dia novo, janela aberta
Em minha cabeça, redemoinho
De minha boca, palavra
E para desvirginar papel, pena
Para fecundá-lo, nanquim
Para nascer, brochura
Para mantê-lo, capa dura
Para aprisioná-lo, estante

Paro
Penso
E não quero

Quero desvirginar
Quero fecundar
Quero parir
Quero manter
Mas
Não quero prender

E parece
Que todo livro
Tem o frio destino
De perecer
Bolorento
Sujo
E carcomido por traças
Naquela estante
Que eu
Tu
Ele
Conjuramos
No canto da sala

domingo, 31 de agosto de 2008

(Foto: Vista Aérea da Praia de Tambaú, João Pessoa/PB)



João Pessoa, 22 de Agosto de 2008


Caro Valcir,


Quão feliz fiquei ao receber sua tão agradável missiva e folgo em dizer que sim, você encontrou-me em paz e com todos os meus gozando de plena saúde. Cartas devem ser elegantes, mesmo quando ensejam más notícias, ou, sobretudo, nestes casos, mas a sua trouxe-me apenas boas novas e a certeza de que fiz certo ao finalmente dar-lhe ouvidos e resolver lançar-me à aprazível tarefa de abrir e manter um blog. Seja bem vindo, traga outros contigo, este é um espaço aberto para todos que se dão ao luxo de pensar diferente em uma época onde a cópia vale mais do que o original. Aguardo, também entusiasticamente, mais contribuições suas na certeza de que elas jamais serão irrelevantes.


Por pouco ia esquecendo-me de dizer-lhe que, na falta de dinheiro, não pude mandar estas poucas mal traçadas linhas via Sedex, o que me obrigou a mandá-las via postagem normal. Faço votos de que nossos valorosos carteiros não entrem em greve neste período (não por não merecerem, é bom que se diga) e que também os cães cariocas não sejam tão violentos quanto as inúmeras balas perdidas nos fazem pensar que são. Sempre fico maravilhado ao notar que estas mesmas balas sempre são encontradas pelos noticiários do horário nobre. Preciso argüi-lo: o Rio de Janeiro continua lindo? De qualquer forma, à torcida do Flamengo, aquele abraço!


Não se preocupe com as dificuldades tecnológicas, posto que não seja exclusividade apenas sua. A cada geração os nossos aparelhos ficam cada vez mais confusos e complicados de terem seu uso completo desvendado. Tenho certeza de que em pouco tempo eles virão com a seguinte inscrição nas embalagens: “Tão simples de usar que até um adulto consegue”. Mas sejamos otimistas, Bill Gates deve estar pensando em uma maneira de facilitar a nossa vida diante do computador, isso entre uma obra de caridade ou outra, ou entre um passeio no seu iate e uma viagem de helicóptero, o qual pode pousar no iate já citado. Às vezes não entendo por que alguém precisa ter tantos meios de locomoção, ele está fugindo do quê? Já seria maravilhoso se ao menos eles descobrissem uma maneira de impedir este notável sistema operacional de empacar qual mula teimosa. De que nos servem janelas fechadas, senão para juntar mofo?


Sou obrigado a admitir, sob pena de soar ligeiramente homossexual, que você possui uma presença física razoavelmente notável. Mas, daí a se parecer com o George Clooney, penso que seja um equívoco seu. Você está acima dele. Vejamos o porquê: o George é uma pessoa que me parece demasiadamente infeliz. Ele é milionário e possui um rosto muito conhecido por conta daqueles filmes que, vez ou outra, são blockbusters globais. Ou seja, mal pode dar um passeio na praia de Copacabana sem ser assediado, ou mesmo ser seqüestrado para sacar uns poucos dólares em um caixa eletrônico. E tem mais, noto que ele não consegue ter um relacionamento fixo há anos, sempre saindo com uma mulher diferente praticamente a cada semana. Pobre George, usado como objeto sexual por top models ninfomaníacas o tempo todo e nem ao menos se apercebe disso. Triste não? E já percebeu como elas são? Pernas longas demais, barrigas secas demais e seios grandes demais! Mas você não, caro amigo. Tem um emprego público que lhe rende o necessário para ser feliz (Bare Necessities, lembra-se?) e ainda lhe permite viajar vez ou outra por esse país maravilhoso de encantos mil que é o Brasil. Já fostes assediado na praia de Copacabana por algum fã chato querendo posar para fotos do Orkut ao seu lado? Além disso, você possui uma esposa devota que, noite após noite, deita-se ao seu lado. Ter sempre e exatamente esta mesma mulher nos seus braços cobrindo-o de atenção e afeto é ou não é uma sorte magnífica? Para concluir meu raciocínio lembro-lhe que você, de fato, lembra o Clark Kent, e que o George viveu o Bruce Wayne no pior filme da série já feito até agora. Viu? Você está anos-luz à frente dele e, para sua segurança, mantenha-se longe de qualquer pedra verde. Nunca se sabe se é uma esmeralda ou uma kryptonita. Melhor não arriscar!


Preciso dizer-lhe que a única coisa que me aborrece no momento é uma sinusite alérgica que teima em dizer que me ama e que jamais me abandonará quando, na verdade, de minha parte o relacionamento já se esgotou. Já me utilizei de diversos expedientes para pôr um ponto final nesta história, desde inalações de drogas (todas lícitas, que fique claro) até o uso contínuo de corticóides que provavelmente me transformarão em um barril de chopp (o que é a abstinência... faz você pensar continuamente naquilo que não se pode ter). No intuito de livrar-me deste mal que me assola já pensei, inclusive, a voltar a fumar, que, se não me curar, ao menos externará toda a minha revolta e frustração diante da situação (novamente, a abstinência...).


Por fim faço votos para que sua estadia na cidade maravilhosa seja cheia de sucesso. Por favor, mantenha-se longe do asfalto! Retorne para os seus com muitas histórias para compartilhar e com o ânimo renovado para continuar nos brindando com sua verve e estilo únicos.


Um grande abraço de todos que fazem deste blog o que ele tem que ser, um encontro de amigos.


Seu irmão em todos os momentos,


Jonesy.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

WWT (World Wide Telegraph)




Valcir, colaborador deste canto do hiperespaço, está pelas bandas do Corcovado e com dificuldades para acessar nossa página. Assim, enviou-me este telegrama solicitando a sua postagem imediata.
Está feito, segue abaixo.




Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2008.



Dear Jonesy,



Espero que esta te encontre em paz, e que os seus gozem

de plena saúde.



As cartas antigamente começavam de forma elegante, não?

Fico feliz que você tenha tomado vergonha na cara e criado

um blog seu.

Sem desmerecer o blog Philosophy on Paper Napkin

(e vossas contribuições).

Mas já estava na hora de você aceitar o insistente desafio

que te proponho desde 1937, em ter um espaço com a tua

cara, para dividir com o resto da humanidade

pérolas de sua sabedoria.



Contribuirei entusiasticamente. Que o fato de ter levado

3 semanas para colocar o meu

primeiro post (é assim que chama?) não o leve a deduzir

menor o meu entusiasmo. Levei 14 dias para conseguir

fazer o cadastro no blog.

Outros sete procurando o til (~) no teclado desse notebook.

Mas, eis-me aqui. Digitalmente anacrônico,

reconheço (não tenho orkut, não tenho MSN e Apple para mim

é a gravadora dos Beatles). Mas, como seu fã

incondicional, lutarei contra minhas incapacidades tecnológicas

para abastecer este espaço com considerações,

no mais das vezes, irrelevantes.

Como não encontrei entrada nessa joça de computador para papel A4,

mandarei via Sedex este e os textos seguintes. Anexos seguem

os retratos para ilustrar o texto (para o meu perfil, uma foto

minha em que pareço o George Clooney e uma foto da nossa

turma em que, estranhamente, parecemos a Liga da

Justiça – aquele de vermelho e azul sou eu).



Por fim, gostaria de externar a satisfação de encontrar por essas

bandas (largas), além de V.Exa., a Aninha, o Beto, Simony e a

Zélia, dentre outros. Folgo em saber-me em tão boas companhias.



Yours truly,



The angry mob.




domingo, 24 de agosto de 2008

Flores da primavera

Foto Zofia Klukowski/deviantart.com

Para os dias frios,
Sugiro, um chocolate bem quente
e um amor sossegado...
Um aquece o corpo
o outro, entusiasma a alma.
Para dias frios,
meias bem confortáveis
e um casaco de flanela!
Para dias frios,
Não basta que eles sejam frios!
É preciso senti-los, assim:
intensos, únicos, especiais...
Para dias frios,
falta substituir as meias,
por teus pés bem quentinhos...
o casaco,
pelo teu abraço aconchegante...
Para dias frios,
O bom mesmo é sonhar, lembrar de ti,
escrever, tomando um chocolate quente,
e esperar as flores da primavera!

Música Ambiente

(foto por Sankri - DeviantArt)


Vocês devem ter notado que agora o nosso coffee shop tem música ambiente. Pois é, foi uma luta deste que vos escreve para conseguir colocar esse troço aí do lado. Sabe como é, sei usar computador, mas quanto a essa tal de linguagem de máquina... que fique apenas para elas mesmo. Prefiro falar com seres humanos, apesar destes serem tremendamente mais complexos. E pensando nisso resolvi proporcionar um pouco de trilha sonora aos nossos bate-papos.

Notem que a lista de músicas é toda composta de canções de filmes. Lembrei de algumas músicas, umas clássicas, outras contemporâneas. Não poderia deixar de colocar O Poderoso Chefão (capisce?), Blade Runner (cacemos as máquinas e sua linguagem hermética!), A Marcha Imperial (que a força esteja com vocês), Carruagens de Fogo (em tempos de Pequim, por que não?) e Superman Main Title (salve Valcir). Coloquei também Hakuna Matata (os seus problemas, você deve esquecer...), The Bare Necessities (só o necessário, do filme Mogli) e I'm a Believer (Laura, minha filha, associou-se a uma comunidade intitulada "Meu Pai é Mais Legal do Que o Shrek". E eu acredito!). Tem também Bob Dylan, Audioslave e Jorge Drexler (e o Che disse que é preciso ter café para todos, lembram?).

Já perceberam que o negócio é eclético, certo? Mas não digam o preço ainda, pois tem mais! Você pode colaborar diretamente para que esta trilha sonora ganhe o Academy Awards! Basta mandar a sua sugestão e eu prometo que procuro na Playlist.com os embalos do seu sábado a noite. Não precisa ser hoje, não precisa ser agora. Vai lembrando e deixando o seu pedido nos comentários dos posts. Cabe até 100 faixas neste disco. Não temos nem vinte ainda. Mas lembre-se, obrigatoriamente tem que fazer parte da trilha sonora de um filme.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Relva Curta

(foto por Anovis - DeviantArt)



É em pó o sonho que traduzo em letras vulgares, e ela me diz, siga adiante. Vermelho de matiz violento. Cor de sangue, cor de suor, mas não há lágrimas. Ainda ouço a voz por mais longe que me vou. Siga adiante. Espiral de escada roubada de caracol, nunca descendo, subindo para o céu que não tem limite. E esse horizonte que nunca se alcança, não obstante as passadas largas? E essa dor que nunca sara, apesar de tanta química me dizendo o que sentir? A voz, ela continua. Siga adiante. Eu vou. Deixo túnica na relva verde junto da madeira onde marchetei teu nome. Sigo nu. Ouço conselhos que são bons e vêem de graça. Ouço outras vozes e me pergunto se sei onde deixei os sapatos que me deste. Prefiro seguir nu, sinto a relva. Sinto o vento, sinto muito, e desculpas não mudam o passado. Apronto a bagagem, o legado que carrego em mim, tua voz, siga adiante. Aponto o caminho, escrevo ninharias em tom de prece muda. Sigo adiante. Mas tão somente por que é desejo seu. De minha parte deitaria na relva, criaria raiz, e em mim renasceria você.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Café Donzelo

(Foto por Beccarekley - DeviantArt)



Sempre achei muito esquisito e até hoje não consigo entender o porquê das pessoas visitarem o túmulo dos seus entes queridos no dia do aniversário de suas mortes. O cemitério é justamente o local que representa qualquer coisa menos a obra, a vida, o legado da pessoa que era amada. Para mim é um bocado deprimente, primeiro que não há alegria nenhuma no ambiente, é tudo muito... muito... morto, com perdão do trocadilho. Assombra-me logo uma tristeza só em ver aquele monte de túmulos, que se soma à tristeza da perda do parente ou amigo que perdi. Acho ainda mais terrível quando as pessoas decidem ir ao cemitério no dia de finados. Primeiro que não vejo nenhuma razão palpável para se ter um dia especial para se visitar os mortos, eles não nos escutam, não nos vêem, não nos contam as novidades do além vida, então o que diabos, ou anjos se você preferir, as pessoas vão fazer lá? Depois, o cemitério se transforma num formigueiro, lotado de gente que vem e que vai, que trazem suas velas e suas flores, que choram, que riem, que contam piadas durante a visita, nada contra as piadas e a alegria, pois é certo que existem muitas maneiras de se homenagear a quem se ama. E é neste ponto que eu quero chegar, na homenagem.


Meu avô era um cara bem legal, nascido e criado no interior do estado. Tinha todos os predicados que fazem de um homem do interior um verdadeiro homem do interior. Foi com ele que minha família aprendeu que palavra dada valia mais do que palavra escrita. Honestidade, verdade, respeito às pessoas, eram coisas que deveriam fazer parte da nossa vida, tanto quanto a necessidade de respirar. Foi com ele também que aprendemos que era muito mais importante o amor partilhado e dedicado dentro de casa do que o volume da conta bancária. Era um homem simples que teve uma vida simples. Passou por maus bocados quando serviu ao exército e foi pracinha na Itália. Um belo dia, perguntei-lhe se ele havia matado algum soldado alemão, ele levou algum tempo para responder e me veio com um papo de que não dava para saber por que nos combates havia sempre muita fumaça. E logo depois mudou de assunto. Entendi de imediato que o assunto era proibido. Depois notei que ninguém na família tocava no assunto, principalmente os filhos, meus tios, o que me deixou ainda mais convencido de que deveria deixar a guerra para o cinema. Na vida real a coisa deveria ser bem diferente.


Dentro de casa era uma figura ímpar. Veio morar conosco na época da doença e morte de minha avó, sua esposa, primeira e única a preencher o seu coração com aquela certeza de que se está ao lado da pessoa certa. Quando minha avó morreu, ele ficou muito abalado durante um tempo. Vivia dormindo e confessou que gostaria de dormir sem parar, estava deprimido, o que nos deixou um pouco preocupados. Melhor dizendo, um bocado preocupados! Mas não tínhamos muito o que fazer, fora ajudá-lo a enfrentar a perda. Depois retornou aos poucos à sua jovialidade.


Ele fazia alguns dos serviços de casa como, por exemplo, lavar os pratos. Nos dias em que muita gente ia lá em casa para jantar ou almoçar e ficava aquele monte de louça sobre a pia ele exclamava, “isso aqui está pior do que cozinha de hotel”. Sempre com um sorriso maroto nos lábios. E sem reclamar mais, se é que isso era uma reclamação, se lançava ao trabalho sob protestos das filhas que se revezavam em mandá-lo sentar-se em frente a TV. Pensa que ele dava bola? Toda vez que vejo qualquer pia lotada de louça eu quase ouço a voz dele repetindo o bordão.


Ele gostava muito de assistir jogos de futebol e é daqui que tenho uma das lembranças mais vivas. Todas às vezes, todas mesmo, que fosse apitado um impedimento ele vinha com a mesma tese de que o impedimento deveria acabar, que não poderia existir tal regra, que no final das contas seria bom para os dois times se a falta não fosse mais marcada, e coisa e tal. Às vezes era engraçado vê-lo reclamar, outras nem tanto, quando por exemplo havia muitos impedimentos num jogo só...


Também com relação à TV ele reclamava dos finais de novela que achava sempre uma droga. Dizia que as pessoas passavam a novela inteira sofrendo ou em busca de um grande amor, e que no final só sobrava um mísero capítulo, e às vezes nem isso, para que elas fossem felizes. Antes de assistir a novela ele dava boa noite para Cid Moreira, no final do Jornal Nacional. Sempre respondia, sem ao menos se lembrar que o Cid estava a milhares de quilômetros de distância. Vai ver era só por respeito, ou por pena de não deixar a saudação do Cid no ar.


Os britânicos que me perdoem, mas mais pontual do que meu avô não havia ninguém. Por ter sido militar ele dizia o seguinte: “se nós marcamos uma ação para as dez horas, então dez horas é a hora, dez e um não é a hora e um minuto para as dez não é a hora. Dez horas é a hora”. Sendo assim, caso você marcasse uma hora com ele era melhor não atrasar, pois veria um homem bastante irritado, e como não era de sair distribuindo impropérios a torto e a direito, ficava com a cara amarrada e resmungando respostas monossilábicas. Muitas vezes vi essa cena, deveria ser difícil pra ele viver num país onde todo mundo acha que atrasar meia hora é perfeitamente normal.


Outra cena inesquecível era vê-lo jogar paciência. Ele sabia uma porção de tipos diferentes e se colocava a jogá-los durante a tarde inteira. Calado e concentrado de um jeito que fazia parecer que não havia mundo ao seu redor. Ensinou-me um jogo que dava para jogar de dois. Jogamos talvez umas dez vezes, ele ganhou todas, eu desisti.


Nenhum dos netos ousava enfrentá-lo, e olha que ele nunca levantou uma mão sequer para nenhum de nós. Também não precisava, bastava olhar. Não ficava pegando no pé de ninguém, deixava o barco correr solto, mas depois chegava junto para dar uns conselhos. Como eu disse, logo no começo, ele era um cara legal. Tinha toda a família do seu lado, e pode ter certeza de que ele junto com vovó fez um bom trabalho. Todos, ou quase todos, cresceram para tornarem-se homens e mulheres dignos do sobrenome que carregam.


Lembro da época em que eu, aluno secundarista, acordava cedo para ir para a aula. Ele acordava antes de mim, aliás, antes de todo mundo dentro de casa, e ia direto para a cozinha. Como bom nordestino, ele acreditava que um bom café da manhã tinha que ter cuscuz. Quando eu acordava o cuscuz já estava pronto, mas o café não, ele ainda estava passando o café, e como se fosse sincronizado (e talvez realmente fosse), chegávamos juntos na mesa eu e a garrafa. Tomar aquele café era um momento especial da manhã. Chegou uma época em que eu enjoei do cuscuz, mas do café nunca.


Certa tarde, minha mãe foi fazer umas tapiocas para o lanche e meu avô correu para ajudar fazendo um café. Foi quando ouvi pela primeira vez a expressão “café donzelo”. Não me agüentei de curiosidade e perguntei-lhe como um café poderia se donzelo. Ele me olhou com aquele ar de quem é sério por força do hábito, mas que estava rindo por dentro e disse-me, “filho, um café donzelo é aquele que é novo, quente e forte, entendeu?”. Claro, por que nunca havia pensado daquele jeito? Tomar o café de meu avô era como amar uma mulher virgem todos os dias, sempre nova, sempre intensa, sempre quente. Requentar café? Isso era apostasia. Tomar o famoso “chafé”? Aquele café ralo e frio? Isso era mesmo que tomar água de esgoto para ele. Ficar sem tomar café? Era o mesmo que a morte, que infelizmente um dia chegou à sua porta, assim como um dia chegará à minha.


Enquanto isso, quando me lembro dele e desejo homenageá-lo, ou passo um café como nos velhos tempos ou vou a um cafezinho e digo:


– Traga-me um café donzelo.

– Como senhor? Não entendi.

– Um café expresso, novo, quente e forte.


Acho melhor do que ir ao cemitério.