"Para mim também é noite: isso não é um consolo?"
Bachelard
Caro amigo Bachelard,
Não, não é um consolo... Em primeiro lugar porque não me apraz saber que a noite alcança a todos, principalmente amigos como você. Em segundo lugar, o sofrimento alheio não mitiga o meu, pelo contrário, exacerba ainda mais o meu pesar, posto que sinto como em minha pele fosse a dor que é tua. Jamais aceitarei a lógica infame de comparar dores. Eu sei, pareço egoísta (e certamente comporto-me como tal), mas pragas, mortes, fome e guerras não eclipsam o meu martírio, seja ele grande ou pequeno se comparado ao martírio vizinho. A minha dor é minha, e por ser minha é maior do que a todos. Ouso dizer-lhe, sob pena de parecer exagerado e dramático demais, que minha dor é maior do que todas as outras dores somadas, haja vista doer em mim, roubar meu sono, revirar-me o estômago e, principalmente, roubar-me a felicidade em viver. Não, meu caro amigo, tua noite em nada traz consolo à minha. E assim, despeço-me. Meu caminho tem sido de certa forma tão insosso que até o prazer em escrever foi-me retirado.
Um abraço, ainda que desolado.
Do sempre seu,
Jean Baptiste.
Não, não é um consolo... Em primeiro lugar porque não me apraz saber que a noite alcança a todos, principalmente amigos como você. Em segundo lugar, o sofrimento alheio não mitiga o meu, pelo contrário, exacerba ainda mais o meu pesar, posto que sinto como em minha pele fosse a dor que é tua. Jamais aceitarei a lógica infame de comparar dores. Eu sei, pareço egoísta (e certamente comporto-me como tal), mas pragas, mortes, fome e guerras não eclipsam o meu martírio, seja ele grande ou pequeno se comparado ao martírio vizinho. A minha dor é minha, e por ser minha é maior do que a todos. Ouso dizer-lhe, sob pena de parecer exagerado e dramático demais, que minha dor é maior do que todas as outras dores somadas, haja vista doer em mim, roubar meu sono, revirar-me o estômago e, principalmente, roubar-me a felicidade em viver. Não, meu caro amigo, tua noite em nada traz consolo à minha. E assim, despeço-me. Meu caminho tem sido de certa forma tão insosso que até o prazer em escrever foi-me retirado.
Um abraço, ainda que desolado.
Do sempre seu,
Jean Baptiste.
3 comentários:
Caro João, a receita de hoje é apenas sentir, porque a dor também traz a lucidez.
Dor é assim, ora chega de mansinho, ora de ímpeto e logo depois se instala e faz perder a humanidade. Cheguei um dia a dizer: "não tenho mais palavra, só sinto dor". A noite não compraz o ser a tornar-se humano, delineia a dor até que o dia alcance e o ser é novamente devorado. Excretar a dor em cartas pode ser uma saída, café e cigarro também. Um abraço.
Do Bachelard, já ouvi dizer, mas, de quem se trata o Jean-Baptiste, tão poético?
Este espaço é bastante sinestésico. O meu já é um pouco comedido. Mas chego lá... abuscademimmesmo.wordpress.com
Valeu pelo café. Estava ótimo!
jean baptist, pseudônimo? ^^
Sobre o texto.. Bem o que dizer.. é completamente egoísta, mas é o que todos pensam, principalmente os hipócritas.
Muito obrigada pela visita *-*
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