
Terremoto e peço um chá para tentar sentir o sabor dos dias que passam em martelo agalopado. Ontem já nem lembro, hoje já acaba, amanhã, quando der conta, já se foi. Cajueiro ao lado da casa, vívidas recordações de horas que pareciam anos a saborear cajus. Sombra, água fresca, o mar tão perto que se podia ouvir as ondas e o cântico das sereias que ainda não sonhava desejar . Refeição agora é prova de velocista, engolida e deglutida entre um afazer e outro e não tem mais o mesmo sabor. Tudo é tão mecânico, tudo se inicia ao som do tiro de partida e a pista só tem cem metros. Imperativo concluir o que se inicia em menos de dez segundos, novo recorde mundial batido a cada tic-tac criterioso do relógio que hoje é senhor do tempo e não mais o seu serviçal. Dispositivo surreal travestido de ditador que nos açoita com ponteiros travestidos de tridente. Delírio? Mas acho que sinto o cheiro de enxofre em cada um desses pequenos tiranos. Bomba atômica sobre a Suíça e perderíamos também o sabor do chocolate. Dúvida cruel, paradoxos do capital.
O sol se põe antes mesmo de nascer
A noite é um inocente piscar de olhos
Dias seguem em martelo agalopado
Escuto o Zé contar seus segredos
Dê-me seu dinheiro
Eu preciso comprar um pouco de tempo para viver