quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Não te cales

(nowhere man by leenik - deviantart)



Ouvi tua voz naquela fotografia

Sussurro em fá maior sustenido

E, ansioso, espero retorno da carta


Sorriso em direção ao sol que nunca se apaga


Finjo entender de música e meu violão me odeia

Finjo ter a sensibilidade suficiente para entender de vinhos

Mas os meus sempre tem o retro-gosto do teu lábio inferior

Finjo não sentir saudades

E a chuva que se abate sobre você não cai do céu

Finjo ser galã de novela, conquistador mediterrâneo

E tudo quanto quero é o aroma que se esconde nas entrelinhas

Nas entrepernas


Finjo ser escritor

E no meu romance particular

A vida é reescrita e estamos juntos e vamos ter filhos

E meu carro sabe falar

Mas guarda nossos segredos da lua cheia


Ouvi tua voz

Sei que ela me guia

Se à perdição ou ao paraíso, não consigo antever


Ouço tua voz

E só me perco quando te calas

2 comentários:

Zélia disse...

Nossa Senhora! Não que seja um poema relioso, não. Talvez, seja. No sentido do que a palavra "religião" indica: religar. Nada mais eficaz em termos de religação que um poema. Re-ligar, re-afirmar, re-conectar, re-unir. Tuas palavras são fortes e eu só me calo em certas ocasiões. Ás vezes, é difícil des-ligar. Leio tuas palavras e imagens vêm à minha mente. É assim quando alguém faz uma literatura que fala minha língua. Também finjo ser escritora mas isso indica que aprendemos a lição do "tio Fernando". O fusca do meu tio era o meu Herbie e sabia de meus segredos e sonhos mais puros. Na sua alma, ele não ousava contá-los. Só não sei fingir não sentir saudades e tenho medo do sol que se deixa cobrir...

Sem me calar,
Zélia

Camilla Tebet disse...

QUE lindo. Uma declaração de amor honesta, sem medo de dizer que para se guiar precisa da voz do ser amado.
Sim, caro policial escritor, é preciso coragem para amar e também para se se dizer que ma, hã?