segunda-feira, 11 de maio de 2009

Poesia X Crítica

Esse texto foi escrito com o intuito de distração de todos que fazem parte do blog, tanto os componentes, como os degustadores. Abraço para todos.



Sobre este assunto muita gente já falou. Para referendar o que estou dizendo, quero lembrar dois nomes deste blog: Valcir Ortins e Alessandro Medeiros. O primeiro, um crítico; o outro, poeta. Para complementar o raciocínio, cito o famoso escritor João Neto, poeta e crítico. Todos me ajudaram a compreender e a me aprofundar um pouco mais na discussão, que continua.

Ninguém ignora Valcir Ortins, categórico em afirmar a busca da objetividade na construção do verso; que a inspiração não é algo presente na sua obra; que o rigor formal e a consciência determinam a composição literária. Em parte, de certa maneira isso mexe comigo. Não pelo trabalho ou transpiração do criador, mas por não entender o fazer poético sem o bafejo da inspiração.
Acredito que o trabalho de arte deixa de ser essa atividade limitada, de aplicar a regra, posterior ao sopro do instinto. Também não se exerce nunca num exercício formal, de atletismo intelectual, logo o trabalho de arte está, também, subordinado às necessidades de comunicação.
Entretanto, essa mesma exigência é o que me leva a desvencilhar-me da forma poética. Quando as ocasiões da vida fizeram com que eu não continuasse a escrever, instintivamente, eu que quis ser ‘poeta’, comecei a fazê-lo conscientemente.

Mais tarde, descobri que a poesia profissional, tal como se deve manejá-la na elaboração de poemas, pode ser a morte da poesia verdadeira. Por isso, retornei à saga dos poetas, onde acreditam em um amor, seja ele por quem for, sim... no verdadeiro amor. Onde idealizamos e construímos pessoas e situações únicas para quem ama.

No meu entender, Valcir escreve sobre assuntos escritos pela vida, sim. Mas não ao “conto simples”, posto que uma das características principais nas suas obras é justamente a esmerada composição textual, o que faz com maestria. Aliás, foi também ele quem falou: “Uma referência a um grande poeta vivo. Melhor, morto.”.

Acredito que João Neto, na verdade, descobriu que era impossível viver sem a prosa. Logo, produz nas duas formas. O tempo mostra que o que poderia ser apenas uma questão de opção estética, era, a bem da verdade, a escolha da melhor maneira que o autor encontrou para se comunicar com o seu público, mesmo porque na prosa do romancista, desde o início até o final, há uma trama perceptivelmente bem trabalhada, elaborada de maneira miúda, minuciosa, com a preocupação de comunicar bem. Criando, inquestionavelmente, imagens recheadas de poesia.
Recorrendo então a um dos meus versos, para testemunhar que a poesia sem amor, é apenas poesia... e com amor ela se torna A POESIA. Que diz:

“Nada na vida tem um significado... sem um verdadeiro amor.”

A personalidade do escritor, ao escrever, é sempre seu maior obstáculo, pois é preciso encarcerar a personalidade no momento de escrever. Citei grandes nomes da literatura deste blog, só para relatar a grande e imensa importância da poesia e da crítica andarem juntas.

Grande abraço aos poetas e aos críticos.

4 comentários:

Zélia disse...

Bom, eu iria começar dizendo que eu não sou poeta e nem crítica. Mas isso é prova de mais um surto que me acomete vez por outra.

Sou poeta porque faço poesia. Quando escrevo e quando trabalho para deixar o mundo mais colorido. Sou crítica primeiro porque não calo, eu falo! Segundo porque o meu curso de graduação em Letras e pós graduação em Língua e Literatura Anglo-Americana me ajudaram entender e, principalmente, sentir literatura e vida (não que o meu curso me torne uma pessoa melhor ou mais sábia que alguém que não tenha feito o mesmo curso. Estou falando disso porque não posso deixar de dizer que ele me ajudou a "organizar" e direcionar meu pensamento com relação as Letras e a Arte).

Continuo, então, dizendo que eu concordo com Valcir. A inspiração me dá a idéia de que o trabalho literário não requer articulação, elaboração, pensamento... Seria algo como que meio caido do céu. O que não é verdade. Claro que só escrevemos quando sentimos um impulso. A isso pode-se dar o nome de inspiração. Eu prefiro chamar "motivação". É à partir da motivação que sentimos que um trabalho nasce. E para que ele crie forma e sentido, nós pensamos, elaboramos, articulamos.

Quando comecei a escrever, eu acreditava que só poderia escrever sobre coisas que eu vivia e sentia. Eu não entendia muito bem a questão do "poeta fingidor" do Fernando Pessoa. Por exemplo, quando eu falava de amor eu só conseguia falar da realizão e da plenitude desse amor. Mas com o tempo e o desafio de escrever sobre algo que não sentia me fizeram ver que é possível você construir um texto pensando em cada "tijolo" que vai colocar alí. E mais! Encontrando o tijolo certo para o sentimento que se quer despertar. Aprendi, então, que eu poderia usar meus olhos de "quem vê o mundo" para retratar o sentimento de frustração, ódio e rancor de um relacionamento em seu fim com muitos danos e sequelas para as partes envolvidas.

Aprendi, também, que o fato de sermos objetivos, de usarmos de forma e regras para se escrever não exclui a poesia. Nem de um poema e nem de um texto em prosa.

Acredito, Alessandro, que quando você fala em inspiração, você se refere a emoção que toma conta de um poeta ao escrever. E, talvez, você tema que a escrita objetiva perca ou não receba essa porção emocional que nos leva a escrever. Não se preocupe. Quem nasceu para poeta nunca vai perder a poesia que o tornou um poeta.

Já Valcir, talvez, deva ver o mundo por um prisma mais colorido e soltar mais as suas emoções. Um texto cheio de emoção não é um texto sem objetivo ou "desregrado".

Mas sabe o que é bom mesmo? É estarmos aqui discutindo sobre essas coisas.Estamos uns aprendendo com os outros. Isso é poesia! E o mundo sem poesia não é nada...

Abraços para todos.
Zélia

Alessandro Medeiros disse...

Olá Zélia, confesso que no começo pensei que não tinhas entendido direito o que quis falar, mas com decorrer do seu comentário, você quase que concluiu da maneira que quis me expressar... “que quando você fala em inspiração, você se refere a emoção que toma conta de um poeta ao escrever”
Exatamente este sentimento que nos faz dar os primeiros passos para a poesia, e ai sim, vem o pensar junto com ...“articulação, elaboração” , para que os versos tenham um sentido completo... ou não!!! ;)
Logo, devemos mais uma vez... “relatar a grande e imensa importância da poesia e da crítica andarem juntas.”

Obrigado pelo comentário Zélia, e o que vale mesmo é estarmos... “uns aprendendo com os outros. Isso é poesia!”

Abraço.

Karol Maia disse...

Que saudades... demorou mas quando veio, veio com tudo!!!
Muito bom o texto, apesar da descontração que foi sua intenção, ficou muito bem escrito e bem trabalhado.
Um grande beijo.

João Neto disse...

Gostei do lance de ser "famoso"...

Sou do tipo que não se importa muito com certos e errados. Também não me importo muito com bonito ou feio, grande ou curto, poesia ou crônica, isso ou aquilo. Gosto daquilo que bate comigo, que diz o que eu penso ou que me insta a pensar por ângulos inusitados. Gosto da polêmica, tanto que dei no saco do Alessandro para ele postar este texto aqui. Gosto da arte de uma maneira geral, da arte que chama a minha atenção por qualquer motivo, que se presta a divertir ou inserir ou protestar ou qualquer outra coisa. Gosto de escrever e me sinto mal quando não faço.

Sandro, você é escritor a despeito do que qualquer pessoa possa lhe falar. Brinco com sua sensibilidade poética e sei o quanto de coisa boa e verdadeira ainda vai sair de sua cabeça conduzida pelo coração.

Grande abraço, luv u!