Ouvi tua voz naquela fotografia
Sussurro em fá maior sustenido
E, ansioso, espero retorno da carta
Sorriso em direção ao sol que nunca se apaga
Finjo entender de música e meu violão me odeia
Finjo ter a sensibilidade suficiente para entender de vinhos
Mas os meus sempre tem o retro-gosto do teu lábio inferior
Finjo não sentir saudades
E a chuva que se abate sobre você não cai do céu
Finjo ser galã de novela, conquistador mediterrâneo
E tudo quanto quero é o aroma que se esconde nas entrelinhas
Nas entrepernas
Finjo ser escritor
E no meu romance particular
A vida é reescrita e estamos juntos e vamos ter filhos
E meu carro sabe falar
Mas guarda nossos segredos da lua cheia
Ouvi tua voz
Sei que ela me guia
Se à perdição ou ao paraíso, não consigo antever
Ouço tua voz
E só me perco quando te calas
2 comentários:
Nossa Senhora! Não que seja um poema relioso, não. Talvez, seja. No sentido do que a palavra "religião" indica: religar. Nada mais eficaz em termos de religação que um poema. Re-ligar, re-afirmar, re-conectar, re-unir. Tuas palavras são fortes e eu só me calo em certas ocasiões. Ás vezes, é difícil des-ligar. Leio tuas palavras e imagens vêm à minha mente. É assim quando alguém faz uma literatura que fala minha língua. Também finjo ser escritora mas isso indica que aprendemos a lição do "tio Fernando". O fusca do meu tio era o meu Herbie e sabia de meus segredos e sonhos mais puros. Na sua alma, ele não ousava contá-los. Só não sei fingir não sentir saudades e tenho medo do sol que se deixa cobrir...
Sem me calar,
Zélia
QUE lindo. Uma declaração de amor honesta, sem medo de dizer que para se guiar precisa da voz do ser amado.
Sim, caro policial escritor, é preciso coragem para amar e também para se se dizer que ma, hã?
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