quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tempo e Espaço


(bed by maru stock - deviantart.com)

Saudade já é palavra antiga
Cujo uso não preenche o significado destes cem dias de solidão
Os ponteiros avançam com indolência
Quando se dará o retorno de saturno?
Quando os astros finalmente se alinharão?
Quando, finalmente, os sinos se dobrarão?
E mesmo com a data marcada e anunciada e cantada em verso e prosa
E desesperadamente esperada
As folhas do calendário caem com preguiça proposital
E zombam, desdenham e torturam
A cama, preenchida de recordações e vazia do teu calor, é armadilha para faquir
A dor, que arde no peito, é chama que não aquece
Chama pelo teu nome e lábios e sussurros e suspiros
E conjura teu corpo
E é quase possível sentir teu perfume
E ao fechar dos olhos
Sentir o encontro, o enlace, o encaixe, a dança, o gozo e o descanso
E o abraço de olhos nos olhos e mãos que acariciam
E com juras de amor proclamadas à distância
Passam-se estes dias deslocados no tempo e no espaço
Vazios


Ps.: Claro que você, Siana, é a musa inspiradora. Beijos, que em breve poderei dá-los de corpo presente. Amo você.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

À Deriva

pastello a mare by aislingalive - deviantart.com



À deriva
Entre o mar que não acaba
E o sol que não perdoa
Não há terra a vista
Nem mesmo há prazo
Para se chegar a lugar nenhum
À deriva
E se navegar é preciso ou impreciso
Derivar é perigoso
Amar, amor, amante, amando, a mando...
Estar à deriva é ainda pior do que estar perdido
É estar impotente, dependente de marolas
Correntes marinhas
Tormentas anunciadas ou não
Indo e vindo e indo e vindo e indo e vindo
E não lhe parece cansativo?
É aguardar por algo que não vai acontecer
Aquele momento épico quando a carta sai da manga
Quando a cavalaria chega e assassina todos os assassinos
Quando Poirot soluciona magicamente o caso
Acaso não é bom assim?
História com fim planejado e porto seguro
Virgem beijando lascivamente
Promessas de mil e uma marolas
E indo e vindo e indo e vindo e indo e vindo
De lugar nenhum para nenhum lugar

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

São Jorge e o Dragão

full moon by michi lauke - deviantart


O homem foi à lua

Pisoteou-a, registrou em fotos e voltou

Ela não era feita de queijo

Não encontraram São Jorge, tampouco o dragão

Não estava cheia, não era nova

Não minguava ou crescia

Mandava suas ordens telepáticas

Enfurecendo ou acalmando os mares

Eles não foram ao lado escuro

Lá não há luz, nunca

Lá só há mistério e conjectura

Não foi medo, estou bem certo

Eles tinham lanternas

Mas não foram e agradecemos por assim ser

Ainda há esperança de que poetas e amantes tenham razão

São Jorge e o Dragão empanturrados de queijo

Quietinhos no escuro

Zombando em silêncio

O Melhor Espresso de Todos os Tempos

Não costumo "kibar" posts de outros blogs, mas esse eu não resisti. Para quem tem conhecimento básico em inglês vale a pena dar uma olhada no 9gag.com. Foi de lá que roubei a tirinha abaixo.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Jerônimo Queda-Livre

falling by kelceigh, in deviantart.com


Jerônimo acorda assustado toda vez que alguém salta do avião e grita seu nome. Dizem por aí que sonhar com queda livre é anúncio de crescimento. Crescer para onde, pensa Jerônimo, se já sou homem velho? Crescer na alma, talvez. Nada melhor do que perder o chão para achar tempo para pensar na vida, e lá de cima o horizonte parece ser sempre maior, mais belo e mais próximo de ser alcançado. Embora, argumente Jerônimo, a urgência do chão se aproximando impiedosamente não nos dê muita tranqüilidade para refletir com a sobriedade adequada. Mas não é verdade que também dizem que do chão não se passa? Não se pode viver para sempre, isso é certo. Mas também não se pode viver sempre como se fosse o último minuto, ou ainda pior, viver como se todos os próximos minutos fossem iguais ao último que passou. E o meio termo parece tão sem graça quanto sopa de chuchu. E só se toma tão insípida iguaria quando não se tem alternativas. Jerônimo acorda assustado toda vez que alguém grita o seu nome, raramente lembra dos seus sonhos, todos aqueles que pareciam tão vivos há tão pouco tempo e que agora, perdidos entre sopas e aviões e dúvidas, já não fazem mais sentido (e ele sabe, mas não tem coragem de encarar, que mesmo montado em um rabo de foguete não alcançará mais nenhum deles). Jerônimo, vez por outra, pensa na queda livre, no anúncio do crescimento, na vida severina, na morte da bezerra, e que talvez, a depender da altura do tombo, ele consiga passar do chão.

sábado, 16 de abril de 2011

Carbono Repetitivo

carbon por Kralik Setite (deviantart.com)


Mais do mesmo me enfada

A repetição me enfada

A repetição me enfada

A repetição me enfada

Mais do mesmo

Sempre mais do mesmo

Os verões passam, passam-se os dias

Fica-se mais velho, o sol fica mais frio

E caminha-se? Não, nem mesmo a passo de formiga

Patinação eterna, mesma paisagem

Percam-se as esperanças

Ninguém é um floco de neve, único e especial

Somos apenas carbono ambulante, falante, mesquinho e repetitivo

Mais do mesmo, e me enfado

Tudo azul, mas azul à maneira inglesa

Há quem viva trinta anos

Há quem viva cem anos

No fim, ambos ganham o mesmo prêmio

A morte, amiga certa, destino errado

No segundo caso há de se ganhar um pouco mais de tédio

E é só

Termômetro pendurado no poste marca 30 graus

Lá fora cai a neve

Cai neve aqui dentro

quinta-feira, 10 de março de 2011

Missivas Noturnas

walk in the night by ferice - deviantart


"Para mim também é noite: isso não é um consolo?"
Bachelard


Caro amigo Bachelard,

Não, não é um consolo... Em primeiro lugar porque não me apraz saber que a noite alcança a todos, principalmente amigos como você. Em segundo lugar, o sofrimento alheio não mitiga o meu, pelo contrário, exacerba ainda mais o meu pesar, posto que sinto como em minha pele fosse a dor que é tua. Jamais aceitarei a lógica infame de comparar dores. Eu sei, pareço egoísta (e certamente comporto-me como tal), mas pragas, mortes, fome e guerras não eclipsam o meu martírio, seja ele grande ou pequeno se comparado ao martírio vizinho. A minha dor é minha, e por ser minha é maior do que a todos. Ouso dizer-lhe, sob pena de parecer exagerado e dramático demais, que minha dor é maior do que todas as outras dores somadas, haja vista doer em mim, roubar meu sono, revirar-me o estômago e, principalmente, roubar-me a felicidade em viver. Não, meu caro amigo, tua noite em nada traz consolo à minha. E assim, despeço-me. Meu caminho tem sido de certa forma tão insosso que até o prazer em escrever foi-me retirado.

Um abraço, ainda que desolado.

Do sempre seu,

Jean Baptiste.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tic-tic-tic-tic

time travel by sortvind - deviantart


Os dias vão se passando e é nisso que dá. Preciosos minutos perdidos dentro de um coletivo repleto de vontades individuais, cujo único desejo comum é que o trânsito flua para que se possa chegar ao destino. Isso para quem sabe para onde está indo. E quem realmente sabe? Mais um giro do ponteiro e lá se foram outras oportunidades e criam-se novas esperanças de dias que não precisam ser nem melhores nem piores, apenas diferentes. Parece, às vezes, que o relógio só faz tic, e o tac, preguiçoso que é, aguarda um momento caprichoso para dar o ar de sua graça. Preciso de um advento, disse-me um amigo. Frisou que não precisa ser a segunda vinda de Cristo, posto que pelo sim, pelo não, ainda não está preparado para prestar as devidas contas. Convenhamos, contabilidade é uma disciplina esotérica, sobretudo quando tratamos da contabilidade da alma. E há como fazer somas e subtrações quando se trata da vida? Ou estamos tão subservientes ao capital a ponto de nos valermos de máquinas de calcular para verificarmos o saldo da existência? De qualquer modo é difícil descobrir se no fim do balanço o resultado é positivo ou negativo quando o fim ainda não chegou. O que é alentador por um lado e deprimente por outro. Alentador pois há a esperança perpétua (haja vista ser a última que morre) de que tenha valido a pena, e deprimente pois já não se estará aqui quando a fatura for apresentada. E lá retornamos nós aos conceitos do capital, Marx grita lá da eternidade: "não te falei garoto?". Enquanto isso o advento não vem. Nem vento, nem brisa que indique a mudança do tempo. Mais um tic, mais um tac, e mais uma ruga surgirá. Contam por aí que olhar para trás não é um bom exercício. Sabe-se lá, talvez sirva para que não se repitam os mesmos eventos que somem mais rugas desnecessárias, ou para que se possa ajustar o leme no rumo certo. Eis outro problema, então. E que rumo seria esse? Afinal o que é certo agora já não será amanhã e nem sempre obtem-se as mesmas respostas para as mesmas perguntas. No final, não o final do balanço, é bom que se diga, vive-se basicamente através da tática do acerto e do erro, vive-se da confiança de que o tato da alma levará cada um ao teto da vida.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dead Man Walking

dead man walking by palycrckthesky - deviantart.com


And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

TIME - PINK FLOYD

Letra completa e vídeo - Tradução


Retardo

Mental?

Tempo

Perdido?

Metal

Corroído?

Vida útil escrita na embalagem

Quebrou depois de vencida a garantia

Tarde para se dar conta

Cedo para prestar contas

Dead man walking (cantam em uníssono os carrascos)

Welcome to the jungle (grita Axel)

The green mile e uma cadeira fumegante

E onde está o milagre que tanto se espera?

Pedir perdão a si mesmo

Olhar-se no espelho e ainda encontrar-se

Mas não é assim, não é verdade?

Foi-se por aí

E vento, ventania

Tão distante e perdido

E cego e roto e sem sentido

E desfaz-se em pedaços

Deixando-se podar pouco a pouco

Dead man walking (cantam as Valquírias)

Dead man walking

Dead man walking

domingo, 23 de maio de 2010

Pérolas da Copa 3

Essa é da copa de 2002, mas como se trata do Fênomeno é sempre bom lembrar:

Ronaldo, após o jogo do Brasil contra a Inglaterra, participando de um debate da Rede Globo:

''O Beckham é bonito mesmo. E tem mais, depois da partida eu troquei de camisa com ele. Normalmente, quando a gente troca de camisa elas estão sempre suadas, mas a dele estava cheirosinha''.